Síndrome mão-pé-boca: 214 crianças foram atendidas em Fortaleza

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O aparecimento de manchas vermelhas juntamente à coceira nas mãos, pés e ao redor da boca interrompeu a madrugada de sono do pequeno Heitor Nicolas, de 2 anos, e da mãe Karine Oliveira, de 25 anos. As “pintinhas” são um dos principais sintomas da síndrome mão-pé-boca, doença que tem atingido crianças de Fortaleza. Foram realizados 214 atendimentos nos postos de saúde de Fortaleza, de janeiro a maio de 2023, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS).


De acordo com a pediatra Luana Nepomuceno, existe um pico de incidência dessa doença no início do ano com o inverno no Ceará, “assim como das outras infecções virais, mas essa doença é bem frequente mesmo nesse período de fevereiro, março até junho”.


Transmitida pela saliva, a síndrome pode ter aumento de risco com o contato com pessoas doentes ou com objetos pertencentes a elas. “Em geral os adultos não pegam essa doença, ela é uma doença da infância. Atinge desde bebês até crianças por volta de cinco anos de idade, mas é raro que ela atinja um adulto”, detalha Luana.

O infectologista pediátrico Robério Leite, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que “na maioria das vezes, o vírus é transmitido pela contaminação fecal-oral, mas também pela via respiratória ou mesmo pelo contato direto com as lesões”. A transmissão é maior na primeira semana da doença. 

“Como os lactentes e pré-escolares são expostos precocemente na vida, a doença se concentra nessa faixa etária (90% em menores de 5 anos), embora possa acometer inclusive adultos. Com as frequentes exposições, as crianças vão adquirindo imunidade natural, o que torna improvável a ocorrência da doença nos indivíduos mais velhos”, detalha.


Segundo ele, a mão-pé-boca é uma doença causada mais comumente por um vírus muito comum, o Coxsackievírus A16, embora possa ser causada por outros Coxsackievírus e Enterovírus.
Robério alerta que como não há vacina contra esse vírus, a prevenção “é fundamentalmente relacionada com a adesão à higienização das mãos, que deve ser estimulada, tanto para os adultos cuidadores, que podem se infectar sem sintomas e mesmo assina transmitir, e para as crianças desde cedo”.


“É uma das viroses que eu considero mais chatas, considerando que ela realmente pode debilitar a criança por causar muita dor quando há lesões orais e ela pode ficar sem comer”, afirma Luana Nepomuceno .
No caso do cearense Heitor Nicolas, os sintomas não passaram de coceira, vermelhidão e ardência. No entanto, pode haver o aparecimento de aftas na boca, mal-estar, falta de apetite, vômitos, diarréia e erupções na pele.


A mãe dele conta que a ardência começou no meio da madrugada. “Quando acordamos, no dia seguinte, era como se ele estivesse todo intoxicado. Mas ele não teve febre. Procuramos um médico, que deu de sete a dez dias para ele melhorar. Ele nos informou que, apesar de não ser uma doença perigosa, era preciso evitar o contato com outras crianças”, diz Karine.


Conforme nota técnica emitida pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) da Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul, nestes primeiros meses de 2023, já foram notificados 20 surtos da doença, que são caracterizados quando há mais de três casos em um mesmo local.
Somados, esses surtos representam 210 casos em 15 municípios do estado. No ano passado, foram 68 surtos em 35 cidades, que somaram 581 casos. O ano de 2021 se encerrou com 172 surtos em 76 municípios, que totalizaram mais de 3,3 mil casos.


A pediatra Luana Nepomuceno pontua que, para tratar a síndrome, é preciso cuidar da hidratação. Oferecer alimentos gelados para amenizar a dor e, ainda, cuidar dos sintomas conforme a necessidade. Além disso, ela salienta a importância de buscar atendimento médico. 


Na grande maioria dos casos, felizmente, a evolução e favorável, sem complicações, diz Robério Leite. “As complicações mais comuns são a infecção secundária das lesões por bactérias da pele e, naquelas crianças que desenvolvem muitas lesões na boca, desidratação, pois as vezes a ingestão de líquidos fica muito prejudicada. Muito raramente, podem ocorrer complicações como encefalite ou miocardite, por exemplo”, acrescenta o infectologista. (Colaboraram Alexia Vieira e Ana Rute Ramires)


Sinais e sintomas

Febre alta nos dias que antecedem o surgimento das lesões;
Aparecimento na boca, amígdalas e faringe de manchas vermelhas com vesículas branco-acinzentadas no centro, que podem evoluir para ulcerações dolorosas e ocasionar dificuldade para engolir e muita salivação;
Erupção de pequenas bolhas em geral nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, mas que podem ocorrer também nas nádegas e na região genital;
Mal-estar, falta de apetite, vômitos e diarreia.


De forma geral, o quadro é autolimitado, ou seja, melhora espontaneamente e tem duração de cinco a sete dias. O tratamento recomendado é sintomático e a orientação é para a criança aumentar o consumo de líquidos, repouso e alimentação leve.

Fonte- O Povo

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