Famílias coletam restos de comida de caminhão de lixo em Fortaleza ‘para ter o que comer’
Em um cenário de insegurança alimentar afetando mais da metade dos cearense, famílias coletam comida em tambor de lixo antes que produtos sejam coletados e levados para o lixão em Fortaleza. A imagem foi registrada na manhã de sexta-feira (23) no Bairro Cocó, área nobre da cidade.
Eles pegam de dentro da cacimba do caminhão os alimentos descartados por um supermercado. O problema ocorreu há pelo menos dois anos. A cena ainda é “costumeira” na região, como afirmou um reciclador que busca comida que seria jogada no lixo.
“Não mudou nada, não, viu? Deixaram de virem para cá umas semanas, mas tem sempre gente aqui. Gente velha, jovem e até criança”, afirmou o catador Gregório, enquanto enquanto coletava restos de comida, papéis, latas e papelões.
Segundo Gregório, há vizinhos que dependem dos restos dos supermercados “para ter o que comer”. “Conheço gente que mora pertinho de mim que sai cedo para esperar o caminhão de lixo. O triste, o que me dói é ver crianças com a cabecinha dentro do caminhão. Faz uma pena danada”, diz.
“Hora ele [caminhão do lixo onde pessoas coletam restos de comida] passa cedinho, antes das seis; e outras, quase 10 horas. Não tem como saber ao certo ele passa. O que sabe é que sempre vai ter gente aqui esperando algo”, acrescenta.
O motorista de aplicativo André Queiroz, que flagrou pela primeira vez a coleta de lixo do caminhão pela primeira vez, compartilhou a imagem que retratam a fome em Fortaleza, imagem que viralizou nas redes sociais e gerou uma rede de solidariedade.
“Existem cenas como essa sempre naquela região. Sempre vejo, mas não como essa daí. Por isso resolvi filmar. É bem impactante”, disse Queiroz.
Um funcionário do supermercado que preferiu não se identificar, disse que a cena acontece todas as semanas. Ele contou que crianças também buscam comida que seria jogada em um lixão.
“É isso aí que você. Faz pena ver essas pessoas nessa situação humilhante. São idosos e até crianças, algumas vezes. As crianças chegam a entrar no caminhão. Os próprios lixeiros ficam sensibilizados. Alguns chegam até ajudar”, disse.
Ainda segundo o funcionário, a cena passou a ser mais rotineira depois da pandemia. Antes, algumas pessoas faziam buscas no local por materiais recicláveis, como papelão, caixas e plásticos.
“Eram catadores que procuravam material para ser reciclado. Hoje o que vemos aqui é gente atrás de se alimentar. Eles pegam tudo. Hortaliças, mortadela, pão vencido e também as frutas. Uma cena de cortar o coração”, disse.
Fonte- G1