Indígenas apresentam cultura e bandeiras de luta em feira

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Pelo menos 25 etnias de várias regiões do Brasil participam de evento.

A barraca de Tereza Arapium (artesã e militante indígena) tem cestos, chapéus e uma série de itens decorativos feitos a partir de materiais encontrados na natureza. Mais precisamente nos arredores da Aldeia Andirá, às margens do Rio Arapiuns, na Amazônia paraense. Folhas do tucumã, um tipo de palmeira, viram a palha que é a base do artesanato. As cores e os grafismos são feitos com tintas obtidas em frutas como o jenipapo e o urucum.

O artesanato chama a atenção pela beleza e pela sustentabilidade, uma vez que não tem nenhum produto químico e a colheita da matéria-prima respeita os ciclos naturais. Por trás de todo esse trabalho, também há uma sabedoria ancestral, de mais de 200 anos, que ajuda a divulgar as bandeiras de luta do povo indígena.

“Não se trata aqui só de vender o artesanato do meu povo, mas de tornar mais conhecida a cultura das mulheres indígenas da floresta que são invisibilizadas. Que vivem em lugares onde as políticas públicas não chegam. Isso aqui é uma fonte de renda, que elas usam para sustentar a família. A arte é uma forma de falar da devastação ambiental e da Amazônia. Quando alguém desmata a floresta, destrói toda essa matéria-prima. E destrói a nossa cultura. E um povo sem cultura, é um povo sem história”, disse Tereza Arapium.

Outros representantes de povos indígenas também apresentam elementos da cultura e as principais bandeiras de luta na feira que ocorre neste sábado (12) e amanhã (13) no Parque Lage, no Jardim Botânico, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. O evento é parte das celebrações pelo Dia Internacional dos Povos Indígenas, cuja data oficial foi 9 de agosto. É organizado pela Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), com o apoio institucional da EAV Escola de Artes Visuais e da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro.

A estimativa é que participam mais de 350 indígenas de pelo menos 25 etnias de todo o Brasil. São elas: Guarani, Pataxó, Puri, Fulni-ô, Tukano, Kaingang, Guajajara, Ashaninka, Tikuna, Tupinambá, Baniwa, Waurá, Kamayurá, Kayapó, Mehinako, Pankararu, Kariri-Xocó, Karajá, Potiguara, Sateré Mawé, Bororo, Kadiwéu, Kambeba, Ananbé, Kichua e Goitacá.

Além do artesanato, há espaço para cânticos e danças tradicionais, narração de histórias, pintura corporal do público, rodas de conversa e debates. Marize Guarani, que é a coordenadora do evento, explica que existe um propósito para além do comércio e das apresentações culturais. A feira assume também uma função pedagógica e ajuda a mobilizar pessoas de outras etnias para as causas indígenas.

“Nosso principal objetivo sempre foi descontruir os estereótipos. Somos pluriétnicos e multiculturais. Estamos aqui lutando para que as pessoas entendam que merecemos respeito. Temos nossas tecnologias e nossos saberes como qualquer outro povo. Mas continuamos sendo vistos como povos que vivem isolados na aldeia. Quando chamamos as pessoas nessas feiras, é para que estejam conosco, valorizem a nossa cultura e lutem junto conosco. Porque lutamos pela floresta, pelos animais, por tudo aquilo que é fundamental para a humanidade e o planeta”, diz Marize Guarani, que também é presidente da Associação Indígena Aldeia Maracanã e professora de História.

O cacique Arassari Pataxó, líder indígena da Aldeia Tatuí Pataxó, no sul da Bahia, reforçou a necessidade de diálogo com a população dos espaços urbanos. Ele participou dos conflitos na Aldeia Maracanã em 2013, quando forças do estado fizeram uma reintegração de posse violenta do terreno contra ocupantes indígenas. Parte do grupo deixou o local e outra permanece até hoje. O governo estadual prometeu restaurar o prédio e criar um Centro de Referência da Cultura dos Povos Indígenas, mas o projeto ainda não saiu do papel.

Segundo Arassari, o engajamento da população com as causas indígenas vai aumentar à medida que haja mais trocas de conhecimento.

“Nossas principais riquezas são a nossa tradição e a nossa cultura. Se perdermos isso, nós não seremos ninguém. E a sociedade brasileira, especialmente a carioca, perdeu o convívio com os nativos do Brasil”, disse o cacique. “Mudamos um pouco a nossa estratégia de luta. Queremos investir mais em práticas pedagógicas. Além de trazer visibilidade para os povos originários, apresentar conhecimentos e descolonizar toda uma história mal contada e as mentiras impregnadas na sociedade sobre os povos indígenas”.

Fonte: Agência Brasil

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