Sífilis em gestantes e bebês preocupa autoridades de saúde
A doença pode causar abortos, perdas fetais, morte neonatal e malformações no bebê
O Brasil enfrenta um aumento dos casos de sífilis, uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. De acordo com dados do Ministério da Saúde, de janeiro a junho de 2022, foram registrados 122 mil novos casos da doença, sendo 79,5 mil de sífilis adquirida, 31 mil em gestantes e 12 mil de sífilis congênita, que é transmitida da mãe para o bebê durante a gravidez ou o parto.
A situação é preocupante, pois a sífilis não tratada pode trazer graves consequências para a saúde da mulher e do feto. A doença pode causar abortos, perdas fetais, morte neonatal e malformações no bebê. Além disso, a sífilis pode ser confundida com outras patologias, pois os sintomas são inespecíficos e podem passar despercebidos pelas gestantes.
O vice-presidente da Comissão de Doenças Infectocontagiosas da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Regis Kreitchmann, alerta que a sífilis congênita pode ser eliminada se a mulher for diagnosticada e tratada corretamente. “Essas perdas possuem enormes impactos sociais, econômicos e psicológicos para a mulher e a sociedade”, afirma.
Para evitar a transmissão da sífilis para o bebê, é fundamental que as gestantes façam o pré-natal regularmente e realizem os exames para detectar a infecção. Caso o teste seja positivo, o tratamento deve ser iniciado o quanto antes com penicilina, um antibiótico que é seguro para a mãe e o feto. O tratamento envolve injeções intramusculares que variam de uma a três doses, dependendo do estágio da doença. O parceiro também deve ser tratado com o mesmo esquema ou com um antibiótico oral.
Mariana (nome fictício para preservar sua imagem) tem 23 anos e descobriu que tinha sífilis na maternidade ao dar à luz a uma menina. Ela e a bebê foram diagnosticadas com a doença e precisaram ficar internadas por 12 dias para receber o tratamento adequado. Mariana conta que foi um período difícil e doloroso, tanto física quanto emocionalmente.
“Ela recebe o medicamento injetável por 10 dias. É doloroso para mim ver o sofrimento da minha filha. É incômodo, ela chora. Não é fácil, não foi fácil para mim. Passei muitas noites em claro por causa disso, fora o peso das noites em claro”, relata.
Mariana diz que não sabia que estava infectada e que não sentia nada de diferente durante a gravidez. Ela aconselha as futuras mães a se cuidarem e fazerem todos os exames necessários. “Tem que fazer todos os exames, mas muitas não acreditam e não pensam assim. Acham que fazer mais um exame de sangue é um gasto, então não fazem porque não estão sentindo nada diferente. Eu estava bem, não sentia nada, minha bebê nasceu saudável e quando fizemos o exame tivemos a surpresa do resultado positivo”, diz.
A especialista em saúde da mulher, enfermagem e obstetrícia e professora de Saúde da Mulher da Faculdade Anhanguera Karina Lopes Capi explica que o aumento dos casos de sífilis em 2022 pode estar relacionado à diminuição da notificação devido ao período da pandemia da covid-19. No entanto, ela ressalta que não se pode falar em epidemia, pois os dados abrangem apenas os seis primeiros meses do ano.
Karina reforça que para prevenir a sífilis basta usar o preservativo durante as relações sexuais. Ela lembra que existem testes rápidos disponíveis nas unidades básicas de saúde (UBS) que podem detectar a infecção em minutos. Ela também destaca que o tratamento com penicilina é eficaz e gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“A sífilis é uma doença que tem cura, mas que precisa ser diagnosticada e tratada o mais rápido possível. É importante que as gestantes façam o pré-natal e os exames de rotina, pois assim elas podem proteger a sua saúde e a do seu bebê”, conclui.4de10