Mais de 100 mil estudantes entraram na educação superior federal por cotas em 2022
Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior 2022
Um relatório divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) mostra que o número de estudantes que ingressaram na educação superior federal por meio de ações afirmativas cresceu 167% em dez anos. Em 2022, foram 108.616 cotistas, contra 40.661 em 2012, ano em que foi promulgada a Lei de Cotas. Os dados fazem parte do Censo da Educação Superior 2022, a mais recente edição da pesquisa estatística realizada pelo Inep.
O relatório foi lançado nesta segunda-feira, 20 de novembro, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra. A ocasião é propícia para refletir sobre a democratização do acesso à educação superior no país, que foi reforçada pela atualização da Lei de Cotas, sancionada recentemente pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o Censo, em 2022, 55.371 pessoas ingressaram em universidades, faculdades e institutos federais pelo critério étnico-racial, o segundo maior recorte de cotistas, atrás apenas dos 99.866 que estudavam em escola pública. Além disso, 45.226 tinham renda per capita inferior a um salário mínimo e meio, 2.059 eram pessoas com deficiência e 3.359 utilizaram outros programas de reserva de vagas.
É importante ressaltar que um mesmo aluno pode se beneficiar de mais de uma forma de ingresso ou programa de reserva, caso se enquadre em mais de um critério.
Atualização – A revisão sancionada pelo presidente Lula amplia o rol de cotistas e altera alguns dos critérios previstos na Lei. As novas regras já valem para a edição de 2024 do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Para Adriano Senkevics, pesquisador do Inep, um aspecto que merece destaque é justamente o impacto no funcionamento do Sisu. Cotistas potenciais poderão ingressar pela ampla concorrência. “Isso tem um reflexo muito grande na justiça do acesso. Só ocupará a vaga quem realmente precisa. O candidato que teve desempenho suficiente para entrar pela ampla concorrência vai poder ingressar por essa via”, explicou. “O que eliminará o que chamamos de ‘reprovação injusta’, que é quando a pessoa tem nota para entrar, mas não entra porque as vagas dos cotistas estão todas preenchidas”, detalhou.
O Inep teve contribuição direta para que esse aspecto fosse incorporado ao texto aprovado pelo Congresso Nacional. Por meio de parcerias entre os pesquisadores da casa e externos, o Instituto publica estudos sobre a Lei de Cotas desde 2018. Os pesquisadores também dialogaram com o Ministério da Educação (MEC) nos últimos meses e produziram notas técnicas que fundamentam as propostas de aperfeiçoamento, além de assessorar o MEC na tomada de decisões sobre os rumos da política.
Senkevics destacou, ainda, a redução da renda familiar máxima que, anteriormente, era de 1,5 salário mínimo por pessoa, para 1 salário mínimo per capita. Na avaliação do pesquisador, esse recorte “ficou mais focado nos mais pobres”. Outro ponto revisado na legislação diz respeito às ações afirmativas para programas de pós-graduação. “Além de promover a adoção de ações afirmativas, a Lei deu segurança jurídica para os programas que já se amparavam nesse tipo de ação”, disse Senkevics.
Permanência e trajetória – Segundo o pesquisador, no entanto, as políticas voltadas à permanência dos estudantes nos cursos e o acompanhamento da trajetória após estarem formados são pontos a serem aprimorados. “O fenômeno da evasão é uma questão grave de modo geral, independentemente de ser ou não cotista”, apontou. “E observar o desempenho dos egressos, no mercado de trabalho, também é importante”, acrescentou.