Estudo revela baixa representatividade de negros e indígenas nas ciências naturais e exatas
O percentual é muito inferior à proporção desses grupos na população brasileira, que ultrapassa 56%, segundo o IBGE
Um estudo inédito divulgado pelo Instituto Serrapilheira e pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostra que negros e indígenas são apenas 7,4% dos professores em cursos de pós-graduação nas áreas de ciências naturais e exatas, conhecidas como “ciências duras”. O percentual é muito inferior à proporção desses grupos na população brasileira, que ultrapassa 56%, segundo o IBGE.
O estudo Diversidade Racial na Ciência analisou dados de oito áreas do conhecimento: astronomia/física, biodiversidade, ciência da computação, ciências biológicas, ciências exatas e da terra, geociências, matemática/probabilidade e estatística e química. Os pesquisadores selecionaram uma amostra de 1.705 professores, respeitando um cálculo estatístico de representatividade da população. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
Os resultados mostram que os docentes brancos são 90,1% dos professores nessas áreas, uma proporção 12 vezes maior que a de negros e indígenas. Os amarelos somam 2,5%. A desigualdade racial nessas áreas de ensino fica flagrante quando se comparam essas proporções com a população brasileira. De acordo com o IBGE, negros – classificação que reúne pretos e pardos – representam 55,7% do total de brasileiros. Os indígenas são 0,83%.
O coordenador do estudo, Luiz Augusto Campos, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj e coordenador do Gemaa/Uerj, destaca que o principal achado é o baixo percentual de pretos, pardos e indígenas nos programas de pós-graduação em ciências duras. “Chegamos a uma estimativa de 7,4%. É muito pouco”, afirma.
Campos explica que o foco da pesquisa nas ciências exatas e naturais se deu por serem áreas reconhecidamente mais desiguais quando já observados outros fatores, como gênero. Ele lembra que essas áreas são estratégicas para o desenvolvimento científico e tecnológico do país e que a falta de diversidade racial pode comprometer a qualidade e a relevância da produção acadêmica.
“É importante ter diversidade racial na ciência porque a ciência é feita por pessoas, e as pessoas trazem suas experiências, suas perspectivas, seus interesses, suas questões para a pesquisa. Se a gente tem uma ciência que é feita predominantemente por um grupo social, a gente pode estar perdendo oportunidades de explorar outros temas, outras abordagens, outras metodologias”, argumenta.
O estudo também aponta algumas possíveis causas e consequências da baixa representatividade de negros e indígenas nas ciências duras, como o racismo estrutural, a falta de políticas de ação afirmativa, a escassez de referências e modelos, a baixa autoestima e a dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
Os pesquisadores defendem que é preciso ampliar o debate sobre a diversidade racial na ciência e implementar medidas que promovam a inclusão e a valorização de negros e indígenas nas áreas de ciências naturais e exatas. Eles sugerem algumas ações, como a criação de cotas raciais na pós-graduação, o incentivo à participação de estudantes negros e indígenas em programas de iniciação científica, o apoio financeiro e acadêmico aos pesquisadores negros e indígenas e a promoção de eventos e publicações que abordem a questão racial na ciência.