Educação no Brasil ainda reflete desigualdades raciais, aponta pesquisa

Foto: Edwalcyr Santos/Sistema Paraíso
Compartilhe

Segundo o estudo, os estudantes negros apresentam maior atraso escolar, menor aprovação, menor acesso ao ensino privado e menor ingresso na universidade do que os estudantes brancos

Um estudo do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) revelou que a educação no Brasil ainda é marcada por desigualdades entre estudantes negros e brancos. A pesquisa analisou dados do Censo Escolar – Educação Básica, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), e da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao período de 2010 a 2019.

Segundo o estudo, os estudantes negros apresentam maior atraso escolar, menor aprovação, menor acesso ao ensino privado e menor ingresso na universidade do que os estudantes brancos. Esses indicadores mostram como o racismo estrutural afeta a qualidade e a equidade da educação no país, que tem a população predominantemente negra.

O atraso escolar, ou distorção idade-série, é a situação em que o estudante está em uma série inferior à adequada para a sua idade. De acordo com o Censo Escolar, a parcela de estudantes negros que estavam nessa condição era de 7,6% nos anos iniciais do ensino fundamental, em média, entre 2010 e 2019. Isso significa que um a cada seis estudantes negros estava atrasado na escola. Entre os estudantes brancos, a proporção era de um a cada 13.

No ensino médio, a situação era ainda mais grave. A média da porcentagem de estudantes negros com distorção idade-série era de 36%, contra 19,2% dos estudantes brancos. Ou seja, a cada três estudantes negros, um estava atrasado na escola, enquanto entre os brancos, era um a cada cinco.

O estudo apontou que houve uma redução da disparidade entre negros e brancos no atraso escolar ao longo dos anos, mas a diferença ainda persistiu, revelando a desigualdade.

Outro indicador analisado pelo estudo foi a taxa de aprovação, que mede a proporção de estudantes que concluíram a série ou o ano letivo com sucesso. O Censo Escolar mostrou que, em média, entre 2010 e 2019, 78,5% dos estudantes negros eram aprovados no ensino médio. A taxa de aprovação dos estudantes brancos era de 85%.

O estudo também destacou a diferença entre o perfil dos estudantes de instituições com maioria de ricos e de pobres. As escolas com maioria de alunos ricos tinham dois terços de estudantes brancos, enquanto as escolas com maioria de alunos pobres tinham dois terços de estudantes negros.

A estrutura das escolas também influencia na qualidade da educação e na aprendizagem dos estudantes, conforme o estudo. Entre 2013 e 2019, apenas 33,2% dos professores do ensino fundamental nas escolas predominantemente negras tinham formação adequada, ou seja, superior em licenciatura ou equivalente na disciplina que lecionavam. Nas escolas com maioria de alunos brancos, o percentual era quase o dobro, de 62,2%.

Outra desigualdade apontada pelo estudo foi a divisão entre escolas públicas e privadas. A presença de estudantes brancos no ensino privado, que muitas vezes oferece uma educação de melhor qualidade e aumenta as chances de ingresso no ensino superior, era 2,6 vezes maior do que a de estudantes negros, em 2019.

O estudo também analisou o ingresso de mulheres nas universidades, a partir dos dados da Pnadc. O que se observou foi que mulheres brancas de 18 a 24 anos de idade eram quase o dobro das mulheres negras na universidade, em média, entre 2016 e 2019. Eram 29,2%, contra apenas 16,5% de universitárias negras. Nesse período, a parcela de negras aumentou levemente, de 15,2% para 16,9%, enquanto a de brancas permaneceu praticamente estável, mudando de 29% para 29,4%.

O estudo do Cedra concluiu que a educação no Brasil ainda reflete as desigualdades raciais que marcam a sociedade brasileira. Os estudantes negros enfrentam mais dificuldades e obstáculos para terem uma educação de qualidade e equitativa, o que compromete o seu desenvolvimento e o seu futuro. O estudo defende que é preciso combater o racismo estrutural e garantir políticas públicas que promovam a inclusão e a diversidade na educação.

Você pode gostar...

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Skip to content