Nova espécie de ‘peixe das nuvens’, que cai do céu na crença popular, é encontrada no Ceará
Uma nova espécie de peixe das nuvens, como é chamado o animal que eclode apenas no período chuvoso, foi descoberto na bacia do Rio Pacoti e nomeado de Hypsolebia gongobira. Além da beleza colorida, os peixes contribuem para o controle de arboviroses, mas são ameaçados pela degradação ambiental.
As informações são de um estudo produzido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e publicado na revista científica Zootaxa, no último mês. Após análises genéticas, os pesquisadores entenderam que o que acreditavam ser apenas uma espécie são 3: Hypsolebia antenori (CE), Hypsolebia gongobira (CE) e Hypsolebia bonita (RN).
“Acreditava-se que existia uma única espécie amplamente distribuída entre essas bacias e a gente analisou a morfologia, coletou dados em campo e genéticos e descobrimos que são 3 espécies diferentes”, explica Yuri Abrantes, biólogo e pesquisador da UFRN. A Hypsolebia antenori, inclusive, foi encontrada pela primeira vez em 1952 na várzea do Rio Jaguaribe, em Russas.
Os peixes das nuvens são conhecidos assim por causa do ciclo de vida. A espécie fica em poças de água e deposita os ovos que ficam misturados com a terra durante todo o período de seca.
Quando as águas da chuva preenchem esses espaços, os peixes eclodem como se tivessem caído do céu, pela crença popular. São conhecidas mais de 150 espécies de peixe das nuvens e para o gênero Hypsolebia são 57 tipos catalogados.
“Esses ovos vão resistir durante todo o período de seca, os peixes morrem e, no ano seguinte quando chove novamente, os ovos eclodem nas poças e começa novamente o ciclo”, frisa Yuri sobre o funcionamento.
Essa adaptação é conhecida como diapausa e permite que o estágio embrionário do peixe seja paralisado até que haja água. No Ceará, a quadra chuvosa acontece entre fevereiro e maio, sendo os ovos capazes de esperar até o próximo período de chuva.
O pesquisador contextualiza que os peixes das nuvens são considerados o grupo de peixes mais ameaçado de extinção de água doce no Brasil. No Estado, a situação preocupa, principalmente, em Pacoti.
“A gongobira ocorre em um ambiente que está severamente impactado pela expansão urbana e coexiste com outra espécie de peixes das nuvens de lá, que já está ameaçada de extinção. Nesta região, há uma área de proteção ambiental, mas as espécies estão fora”, detalha sobre a situação do município cearense.
Além da interferência humana para a criação de moradia, o uso agrícola e de mineração também comprometem a existência dos animais. “Sugerimos nesse estudo que essa área de proteção ambiental seja ampliada para incluir as espécies que ocorrem fora e outras espécies de árvores, aves e mamíferos”, acrescenta Yuri.
Os peixes das nuvens aparecem, exatamente, no período em que desempenham uma função importante para os seres humanos.
“A gente observa que elas se alimentam muito de sementes e pequenos invertebrados e, durante esse período de chuva, os mosquitos propagadores de doenças se reproduzem e os peixes fazem o controle populacional ao comer as larvas”, aponta o pesquisador.
CARACTERÍSTICAS DA ESPÉCIE
Esse estudo com os peixes das nuvens é realizado desde 2019, quando a diversidade de espécies das cavernas do Rio Grande do Norte, em Jandaíra, começaram a ser analisadas. Com o conhecimento obtido, os pesquisadores propõem medidas de conservação.
“Se a gente for observar as espécies da lista vermelha (com a classificação de ameaça de extinção), em grande maioria são peixes das nuvens”, completa.
Também são observadas características da espécie, como as diferenças entre gêneros. “Os machos são mais coloridos, maiores e com comportamento mais agressivo. As fêmeas têm um comportamento padrão comum, são menores, esbranquiçadas e com pintinhas pretas”, detalha.
Estudos anteriores também identificaram uma forma peculiar de dispersão dos ovos. “Outros pesquisadores constataram que possivelmente as aves poderiam estar dispersando os peixes ao se alimentar nas poças e engolir os ovos”, explica Yuri. Os ovos podem ficar um período de 30 horas dentro das aves.
Fonte- Diário do Nordeste