Pesquisadores buscam reduzir custo de tratamento contra câncer infantil

Foto: Instituto Stella de Marco/Divulgação
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A pesquisa foi motivada pela campanha em prol da saúde de Pedro, um menino de cinco anos que precisa do remédio

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Israelita Albert Einstein busca reduzir a dose e o custo de um medicamento usado no tratamento de um tipo de câncer infantil chamado neuroblastoma. A pesquisa foi motivada pela campanha em prol da saúde de Pedro, um menino de cinco anos que precisa do remédio, mas não tem acesso pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O neuroblastoma é um tumor que se origina nas células nervosas e pode se espalhar pelo corpo. É o terceiro tipo de câncer mais comum em crianças, depois da leucemia e do linfoma. O tratamento envolve quimioterapia, cirurgia, radioterapia e, em alguns casos, transplante de medula óssea.

Pedro foi diagnosticado com neuroblastoma em estágio 4, o mais avançado. Ele deverá ser submetido a um autotransplante de medula óssea e, após o procedimento, vai precisar de uma medicação que na dosagem recomendada pode chegar ao custo de R$ 2 milhões.

Esse remédio é o betadinutuximabe, cujo nome comercial no Brasil é Qarziba. Ele faz parte de uma nova classe de tratamentos chamada imunoterapia, que usa o sistema imunológico do paciente para combater o câncer. O betadinutuximabe é um anticorpo que reconhece e ataca as células tumorais que possuem uma substância chamada GD2.

O betadinutuximabe já tem registro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, mas não está na lista de medicamentos especiais do SUS, em função do seu elevado custo. Segundo o médico Vicente Odone Filho, especialista em câncer infantil do Hospital Albert Einstein, esse é um problema que afeta muitas crianças que precisam do remédio.

“Isso tem trazido para quem trabalha com essa doença um problema imenso, no sentido de lutar para disponibilizar para todas as crianças que dela necessitam”, disse ele.
Estudo busca alternativa.

Para tentar contornar essa situação, os pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein e da USP estão testando uma forma diferente de usar o betadinutuximabe. Eles querem verificar se é possível reduzir a dose do remédio para 20% da dose convencional, sem perder a eficácia.

O estudo, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), está na fase de recrutamento de pacientes. A ideia é acompanhar 30 crianças com neuroblastoma em estágio avançado que já tenham feito o transplante de medula óssea e que estejam em remissão da doença.

Os pacientes serão divididos em dois grupos: um receberá a dose convencional de betadinutuximabe e o outro receberá a dose reduzida. Os dois grupos também receberão outras duas drogas que potencializam o efeito do betadinutuximabe: a interleucina-2 e o ácido retinoico.

O objetivo é comparar a sobrevida e a qualidade de vida dos dois grupos, bem como os efeitos colaterais do tratamento. Os pesquisadores esperam que a dose reduzida seja tão eficaz quanto a dose convencional, mas com menos toxicidade e menor custo.

“Se esse protocolo for bem-sucedido, nós poderemos usar uma dose muito menor de Qarziba do que se utiliza normalmente, mais ou menos 20% dessa dose. Ainda continuará sendo um medicamento muito caro, mas com maior facilidade, visto que utilizaríamos 20% da dose convencional”, explicou Odone.

O médico ressaltou que o betadinutuximabe é um recurso fundamental para aumentar as chances de cura das crianças com neuroblastoma em estágio avançado. Ele disse que o medicamento aumenta em cerca de 20% a sobrevida desses pacientes.

“É um medicamento que tem um impacto muito grande na doença. É um medicamento que salva vidas”, afirmou.

Odone também destacou a importância da campanha em prol da saúde de Pedro, que mobilizou milhares de pessoas e arrecadou mais de R$ 1 milhão para o tratamento do menino. Ele disse que a campanha chamou a atenção para a necessidade de ampliar o acesso aos tratamentos oncológicos no SUS.

“Essa campanha foi muito importante para divulgar essa doença, que é pouco conhecida, e para sensibilizar as autoridades e a sociedade para a importância de disponibilizar esses recursos para todas as crianças que precisam”, disse ele.

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