Setor produtivo reclama de corte insuficiente na Selic
A decisão não agradou as entidades do setor produtivo, que consideraram o corte tímido e insuficiente para estimular a economia e baratear o crédito
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu, nesta quarta-feira (31), a taxa Selic (juros básicos da economia) em meio ponto percentual, de 11,5% para 11% ao ano. A decisão, porém, não agradou as entidades do setor produtivo, que consideraram o corte tímido e insuficiente para estimular a economia e baratear o crédito.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a decisão do Copom de “injustificável” e pediu mais ousadia no ritmo de queda da Selic. Em nota, o presidente da entidade, Ricardo Alban, disse que o Banco Central precisa ter maior compreensão da realidade brasileira e reduzir significativamente o custo financeiro das empresas e dos consumidores.
“É necessário e desejável maior agressividade do Copom para que ocorra uma redução mais significativa do custo financeiro suportado por empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e consumidores. Sem essa mudança urgente de postura, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos emprego e renda”, criticou Alban. Antes da reunião do Copom, a CNI tinha soltado nota pedindo um corte de 0,75 ponto percentual.
Segundo a CNI, as expectativas para a inflação em 2024 estão abaixo do teto da meta, e o câmbio pode contribuir para controlar a inflação. O comunicado lembrou que o dólar comercial caiu de R$ 5,40 no início de 2023 para R$ 4,90 neste ano.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) também considerou o corte da Selic insuficiente e defendeu que há espaço para reduções mais intensas. Em comunicado, a entidade afirmou que a continuidade dos cortes é crucial para a economia e que os dados de curto prazo indicam um cenário de desaceleração da atividade econômica.
“O retorno da inflação à meta em 2023 e a desaceleração do índice prévio de janeiro têm provocado reduções nas expectativas inflacionárias, especialmente para o ano de 2024. Os cortes mais acentuados dos juros também se justificam pelos dados de curto prazo, que indicam um cenário de desaceleração da atividade econômica”, avaliou a Firjan.
As centrais sindicais também manifestaram insatisfação com o corte de meio ponto percentual na Selic. A Confederação Única dos Trabalhadores (CUT) relacionou os cortes na taxa Selic à queda do desemprego para 7,8%, divulgada nesta quarta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em nota, a CUT pediu cortes mais agressivos e disse que os juros continuam altos e prejudicam as medidas do governo para a recuperação da economia. “Não tem como a Selic prosseguir nesses níveis. Como vamos implementar um projeto de reindustrialização no Brasil, investir na saúde, em obras do PAC, como o Estado irá conseguir somar dinheiro para tantas áreas fundamentais, com os juros acima dos 10%?”, questionou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
A Força Sindical também tachou de “tímida e insuficiente” a queda de meio ponto percentual na Selic. “Um pouco mais de ousadia traria enormes benefícios para o setor produtivo, que gera emprego e renda e anseia há tempos por um crescimento expressivo da economia. É um absurdo esta mesmice dos tecnocratas do Banco Central”, destacou a nota da entidade.
“Juros em patamares estratosféricos sangram as riquezas do país, criam enormes obstáculos ao desenvolvimento nacional e comprometem a geração de postos de trabalho e os investimentos sociais. Insistimos que a manutenção dos juros em patamares proibitivos trava a retomada do crescimento econômico”, afirmou em nota o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.