Seca afeta pastagens, causa morte de animais e preocupa agricultores em Cariri Oeste
Agricultores da região do Cariri Oeste, no Sul do Ceará, já vinham sofrendo com a falta de chuvas da pré-estação, que ocorreu entre dezembro e janeiro. As consequências da precipitação abaixo do esperado são perdas de pastagem, plantações e mortes de animais.
Gestores das cidades da região se preocupam com a subsistência de quem vive da agricultura familiar caso o volume de chuvas permaneça o mesmo. O Ceará tem 45% de chances de chuvas abaixo da média nesta quadra chuvosa, conforme prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
Segundo o gerente regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce) de Cariri Oeste, Agenor Ribeiro, já houve morte de animais em todos os sete municípios que compõem a região, apesar de não conseguir quantificar as perdas. A região toda teve chuvas abaixo da média do mês de janeiro, conforme Agenor.“
A situação não é boa. Tivemos poucas chuvas, consequentemente, não houve plantação suficiente, não teve germinação daquilo que foi plantado. Temos muito problema de [falta] de água dos animais e principalmente pastagem, muitos já não têm mais o que comer”, afirma o gerente.
Fazem parte da região oeste do Cariri os municípios de Campos Sales, Salitre, Assaré, Araripe, Potengi, Tarrafas e Antonina do Norte, conforme a Ematerce.
Entre eles, dois já estão em situação de emergência devido à seca ou à estiagem decretada no Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil: Campos Sales e Araripe. Ao todo, o Ceará tem 31 cidades em situação emergencial.
Júnior Góis, secretário da Agricultura de Assaré, afirma que o documento do município já está sendo redigido. “Estamos fazendo o decreto de estado de calamidade. É o primeiro ano que a gente está fazendo, nos outros anos não achava necessário o decreto, estava chovendo bem”, diz.
É por meio desse decreto que as cidades têm acesso à Operação Carro-Pipa Federal. No entanto, todos os municípios de Cariri Oeste já têm distribuição de água para regiões afastadas por meio de carros-pipa fornecidos pelas próprias prefeituras.
O secretário explica que reuniões com entidades parceiras vão ocorrer para formalizar um plano de ação para o período de seca. Os municípios também planejam procurar o governo Estadual e Federal para pedir ajuda.
Agricultura familiar tem prejuízosEm Tarrafas, o chefe da pasta da Agricultura, Genubio de Alcântara, explica que a maioria da população da zona rural sobrevive da agricultura familiar. Os prejuízos de perder animais e plantações pode afetar diretamente a alimentação das famílias. “Alguns criadores ainda tem um resto de capim, mas só o seco não alimenta [o gado].
Para esses criadores cuidar dos seus animais dando ração é muito caro. Se torna inviável”, afirma.
Segundo Agenor, o programa Hora de Plantar, da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), chegou a distribuir sementes de feijão para os agricultores da região, mas não foi suficiente. “Já teve agricultor que plantou e já perdeu. Não está tendo nem para plantar, imagina para comer”, conta.
Para o gerente regional, é preciso que haja ações de perfuração e recuperação de poços profundos, distribuição de sementes e milho. Além disso, ele afirma que será necessário o fornecimento de cestas-básicas para os agricultores.
De acordo com o órgão, foi iniciada a implantação de cisternas de placas para consumo humano e para a produção de alimentos em 54 municípios. A instalação de poços também será ampliada, em parceria com a Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra).
Em nota, a pasta informa que o “Governo do Ceará apresentou propostas ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Governo Federal, para garantir suporte forrageiro aos animais e implementos agrícolas para as famílias cearenses. Também foi solicitada a aquisição de 100 mil toneladas de milho, que devem ser utilizados para alimentação de bovinos, ovinos, caprinos e suínos”.
Desde novembro de 2023, órgãos e pesquisadores do governo do Estado produzem um plano de ação para mitigar os efeitos do El Niño, fenômeno de aquecimento das águas do Oceano Pacífico que deve afetar negativamente a quadra chuvosa. As ações da SDA descritas na nota já fazem parte do plano. No entanto, o governo ainda não detalhou o documento.
Conforme a SDA, o documento deve ser apresentado pelo governador Elmano de Freitas “nos próximos dias”.
Fonte- O Povo