Autolesão de jovens no brasil cresce acima da média mundial

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O estudo analisou quase 1 milhão de dados dos sistemas de informação do Ministério da Saúde e contou com a colaboração de pesquisadores de Harvard

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que o Brasil enfrenta um grave problema de saúde pública relacionado ao suicídio e à autolesão entre crianças e jovens. Segundo a pesquisa, publicada na revista The Lancet Regional Health – Americas, a taxa de suicídio entre jovens de 10 a 24 anos de idade aumentou 6% ao ano entre 2011 e 2022, enquanto as notificações por autolesões nessa faixa etária cresceram 29% ao ano no mesmo período. Esses números são superiores aos da população em geral, que teve um aumento médio de 3,7% ao ano na taxa de suicídio e de 21% ao ano nas notificações por autolesão.

O estudo analisou quase 1 milhão de dados dos sistemas de informação do Ministério da Saúde e contou com a colaboração de pesquisadores de Harvard. A líder da investigação, Flávia Jôse Alves, pesquisadora do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, explicou que o aumento das taxas de notificação por autolesões e suicídios foi consistente em todas as regiões do Brasil. “Isso mostra que esse é um fenômeno nacional, que afeta todas as classes sociais, gêneros e idades”, disse Flávia.

O estudo também comparou os dados do Brasil com os de outros países e regiões do mundo. Flávia destacou que, enquanto o número de suicídios caiu 36% em escala global entre 2000 e 2019, as Américas registraram um aumento de 17% nos casos. No Brasil, o crescimento foi ainda maior: 43%. “Isso significa que o Brasil está na contramão da tendência mundial de redução do suicídio, o que é muito preocupante”, afirmou Flávia.

A pesquisa também avaliou os fatores de raça e etnia na ocorrência de suicídios e autolesões no Brasil. Os resultados mostraram que a população indígena é a mais afetada, com mais de 100 casos de autolesão a cada 100 mil pessoas, seguida pelos descendentes de asiáticos, com 80 casos. Os indígenas também apresentaram as menores taxas de hospitalização, o que sugere que há barreiras no acesso aos serviços de saúde. “É preciso garantir que essa população tenha atendimento adequado e oportuno, pois isso pode fazer a diferença entre a vida e a morte”, alertou Flávia.

Flávia ressaltou que o estudo tem como objetivo contribuir para a formulação de políticas públicas de prevenção e assistência às vítimas de suicídio e autolesão no Brasil. Ela defendeu que é preciso investir em ações de promoção da saúde mental, especialmente entre crianças e jovens, que são mais vulneráveis aos efeitos da violência, do bullying, das redes sociais, da depressão e da ansiedade. “O suicídio e a autolesão são problemas complexos, que envolvem múltiplos fatores, mas que podem ser prevenidos. É preciso quebrar o tabu e falar sobre esse assunto, pois o silêncio pode ser fatal”, concluiu Flávia.

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