Envelhecimento da população do Japão compromete mercado de trabalho

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Um em cada dez japoneses tem 80 anos ou mais, aponta o Ministério do Interior japonês

O trator de toneladas faz manobras precisas num terreno enlameado na cidade de Tsukuba, não muito distante de Tóquio, capital do Japão. De longe se percebe a velocidade e como corrige a rota no terreno difícil.

E quando a gente repara bem… vê uma cabine vazia. Essa máquina é autônoma, programada à distância. A tecnologia surge como uma das saídas para que os japoneses lidem com a falta de mão de obra, por causa de mudanças demográficas.

O mundo inteiro enfrenta um processo de envelhecimento da população. Mas basta andar em qualquer cidade do Japão para perceber que, lá, o problema é mais grave, já se refletindo em diversos setores. Na agricultura, por exemplo.

Tratores que funcionam sozinhos, no mundo inteiro, não são novidade. Mas se nos demais países eles são usados para aumentar a produção agrícola, no Japão servem para manter a produtividade.

Seja no campo ou nas grandes cidades, o Japão passa por uma acelerada queda na sua população. Segundo as projeções do Instituto Nacional de População Japonês, se, em 2022 a população passava de 126 milhões de habitantes, em 2056, ela cairá para menos de 100 milhões.

A tendência começou em 2008 – quando, pela primeira vez, o número de mortes superou o de nascimentos. A população japonesa vem encolhendo. Isso significa não apenas menos mão de obra para operar o trator, mas para movimentar o país.

E tem outra consequência: a parcela de idosos é cada vez maior. Hoje, 29,4% dos japoneses têm mais de 65 anos. O orçamento da nação fica refém do pagamento de pensões e cuidados com a saúde.

Na construção civil, por exemplo, a dificuldade em encontrar operários impacta no custo da obra, especialmente em uma cidade como Tóquio, onde novos arranha-céus surgem por todos os lados.

Ter menos funcionários pode levar a uma sobrecarga, especialmente numa sociedade que tem no trabalho um ponto de honra.

E há um risco de se questionar a qualidade do que o Japão fabrica, até de maneira curiosa: no fim do ano passado, a conceituada loja de departamentos Takashimaya manteve a tradição de vender e entregar em domicílio bolos de morango.

A entrega, com pontualidade e qualidade típicas dos japoneses foi com um gosto amargo, já que os bolos chegaram despedaçados e amassados. Representantes da empresa pediram desculpas e afirmaram a suspeita de um descuido na hora de fazerem as entregas porque havia menos gente trabalhando.

No campo, a realidade também é dura. A média de idade dos trabalhadores rurais é de 68 anos e muitas famílias que vivem da agricultura não têm herdeiros. Por isso, o representante da fábrica de tratores Kubota conta que, por isso, toda ajuda é importante.

“Mesmo considerando que possa ser difícil um agricultor de mais idade operar o trator autônomo, a agricultura inteligente, digital, será indispensável para enfrentar o problema da falta de mão de obra”, acredita Satoshi Iida.

Além da tecnologia, o Japão tenta os incentivos às famílias. Para cada filho, o governo repassa o equivalente a R$ 350 mensais. A partir da terceira criança, o valor sobe para mil reais, valendo até o aniversário de 18 anos. Além disso, mais creches serão abertas para ajudar as mães na jornada dupla.

O que outros países fazem para equilibrar a queda populacional é receber mais estrangeiros. Mas isso, culturalmente, sofre uma resistência no Japão. Mesmo que haja exemplos positivos no país.

Myoko, uma cidade montanhosa no interior do Japão, fica coberta de neve durante o inverno. E isso levou o neozelandês Neil a se mudar de vez para a cidade em 2018. Percebendo o grande número de imóveis vazios e, consequentemente, seus preços baixos, ele resolveu investir.

Se mudou com a família e abriu um hotel por lá para abrigar turistas que querem esquiar. A primeira dificuldade foi conseguir o visto para morar no país. A segunda foi encontrar trabalhadores jovens para a reforma do hotel.

“Todos os carpinteiros, encanadores, eletricistas, todos têm 65, 70 anos. Ainda tem alguns anos de vida, mas não há jovens chegando para aprender o trabalho e substituir os mais velhos. O que é um problema, especialmente aqui”, explica Neil.

Mas mesmo com as dificuldades, o empresário não se arrepende. “Eu me sinto abençoado que posso criar uma família aqui e nos ver ficando uns 10, 20, 30, 40 anos, quem sabe? Ou muito mais, no Japão e sendo feliz”, finaliza o neozelandês.

Fonte- CNN

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