Nasa procura novos métodos para trazer amostras de Marte à Terra
Cortes no orçamento que impactaram a agência espacial dos Estados Unidos colocaram projeto original em risco.
A Nasa (agência espacial dos Estados Unidos) está buscando métodos inovadores que possam ajudar a recuperar amostras coletadas pelo rover Perseverance em Marte no futuro.
O rover, que pousou em Marte em fevereiro de 2021, vem coletando amostras da Cratera Jezero, onde um antigo lago e delta de rio existiram no planeta vermelho. Os cientistas acreditam que as amostras possam ajudá-los a entender melhor se a vida já existiu em Marte.
O projeto original para o programa Mars Sample Return, uma parceria entre a Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA), era complexo. A arquitetura envolvia várias missões lançadas da Terra para Marte para coletar as amostras e, em seguida, conduzir o primeiro lançamento de foguete da superfície de outro planeta para devolver as amostras à Terra.
Mas tem havido preocupações sobre o programa ser muito complicado devido à complexidade, despesa e uma data de retorno atrasada, que originalmente deveria acontecer em 2031, mas foi adiada após avaliações de um conselho de revisão independente. Cortes no orçamento que impactaram a Nasa também colocaram o programa em risco.
O administrador da NASA, Bill Nelson, e Nicky Fox, administrador associado do Diretório de Missões Científicas da Nasa, compartilharam a resposta da agência federal ao conselho de revisão independente.
As revisões do programa recomendaram que o retorno da amostra de Marte não deveria custar mais de US$ 5 bilhões a US$ 7 bilhões (entre R$ 26 bilhões e R$ 36 bilhões), disse Nelson. Mas a Nasa está sendo forçada a lidar com as restrições de gastos reduzidos devido a cortes no orçamento para os anos fiscais de 2024 e 2025, causando um impacto de US$ 2,5 bilhões (cerca de R$ 13 bilhões) na agência, disse ele.
O resultado final é que um orçamento de US$ 11 bilhões (aproximadamente R$ 57,5 bilhões) é muito caro e uma data de retorno em 2040 é muito distante”, disse Nelson.
“Pousar e coletar amostras com segurança, lançar um foguete com as amostras para fora de outro planeta, o que nunca foi feito antes e transportar as amostras com segurança por mais de 53 milhões de quilômetros de volta à Terra não é uma tarefa fácil. Precisamos pensar fora da caixa para encontrar um caminho a seguir que seja acessível e retorne amostras em um prazo razoável.”
Nelson disse que é inaceitável esperar até 2040 para devolver as amostras à Terra porque a década de 2040 é “a década em que vamos pousar astronautas em Marte”, reiterou ele durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira. Um preço de US$ 11 bilhões para o programa faria com que a Nasa canibalizasse outros programas e missões científicas, disse Nelson.
Essas missões incluem o NEO, ou Near-Earth Object, Surveyor para descobrir asteroides que podem representar um risco para a Terra; Dragonfly, que investigará a habitabilidade potencial da lua de Saturno, Titã; e missões como DAVINCI e VERITAS para descobrir os segredos de Vênus. (Os nomes das missões de Vênus são abreviações de Deep Atmosphere Venus Investigation of Noble Gases, Chemistry and Imaging Plus e Venus Emissivity, Radio Science, InSAR, Topography, and Spectroscopy.)
Embora Nelson esteja esperançoso de que o orçamento para o ano fiscal de 2026 não seja tão restrito, abrindo mais financiamento científico para a Nasa, isso não resolve o problema imediato de como seguir em frente com o Mars Sample Return.
As autoridades da agência irão anunciar em breve solicitações aos centros da Nasa e à indústria para desenvolver um novo plano que combine inovação com lições aprendidas com tecnologia comprovada, de acordo com Fox. A Nasa está planejando a década de 2030 para uma missão de retorno de amostras com menos complexidade, custo e risco, disse ele.
É uma reviravolta rápida para as propostas, e a agência espera ter respostas sobre a melhor forma de retornar amostras de Marte até o outono, disse Nelson.
O requisito básico das propostas é devolver as 30 amostras coletadas pela Perseverance de um conjunto diverso de locais, disse Fox.
“Marte é extremamente importante para nós”, disse Fox. “É um dos poucos locais que poderia ter abrigado vida. Dito isso, entendemos que para fazer as coisas mais rápido, podemos ter que reduzir o escopo do número de amostras.”
A solicitação para uma nova arquitetura para o Mars Sample Return incluirá uma variedade de espécimes desejados para retorno à Terra, disse Fox.
“Estamos partindo da premissa de que este é um objetivo nacional importante, o retorno das amostras”, disse Nelson.
Ele reforçou a ideia de que a Nasa não queria encerrar o programa por considerá-lo muito crítico, especialmente porque a agência pretende pousar astronautas no planeta vermelho no futuro.
Enquanto isso, as decisões atuais não afetarão o plano científico da jornada de Perseverance em Marte, e o rover continuará coletando amostras enquanto explora a borda da cratera, disse Fox.
Olhando para o futuro O Jet Propulsion Laboratory (Laboratório de Propulsão a Jato, ou JPL) da Nasa, em Pasadena, Califórnia, gerencia a missão do rover Perseverance e outros empreendimentos de exploração em Marte.
Os esforços atuais para o programa de retorno estavam em andamento no JPL quando demissões atingiram o local em fevereiro para atender aos requisitos de cortes no orçamento. A nova arquitetura que for finalmente desenvolvida para a missão de retorno de amostras determinará o escopo da supervisão de gerenciamento do JPL, disse Nelson.
A Agência Espacial Europeia também desempenhou um papel importante no desenvolvimento do programa, e Fox confirmou que a agência ainda está envolvida nas discussões sobre o futuro do programa.
Para o ano fiscal de 2025, Fox disse que está recomendando uma solicitação de orçamento de US$ 200 milhões enquanto a Nasa avalia arquiteturas alternativas, o que também permitirá que outras ciências planetárias continuem no JPL e em outros centros da Nasa.