Escolas e famílias no combate ao racismo: uma necessidade urgente
Especialistas destacam a importância de envolver as famílias dos agressores no debate
Em abril, casos de racismo em escolas de elite ganharam destaque na mídia, evidenciando a necessidade urgente de instituições de ensino realizarem trabalhos efetivos de combate à discriminação, conforme previsto em lei. Especialistas destacam a importância de envolver as famílias dos agressores no debate e a necessidade de punições que evidenciem a gravidade dos atos cometidos, além de proteger as vítimas.
Gina Vieira Ponte, consultora em educação e especialista em desenvolvimento humano, educação e inclusão escolar, analisa: “Se os episódios estão acontecendo e vindo à tona, provavelmente está faltando as escolas fazerem um trabalho mais efetivo”. Ela lembra que a escola não é impermeável ao que acontece na sociedade e que, muitas vezes, se reduz a um espaço de reprodução da cultura racista.
Dois casos recentes chamaram atenção. Em São Paulo, a filha de 14 anos da atriz Samara Felippo foi vítima de racismo na Escola Vera Cruz, em Pinheiros. A atriz, por meio de uma postagem nas redes sociais, comentou que tem recebido apoio e que pretende buscar justiça: “Racismo é crime e vou até o final para que seja aplicada a lei perante um crime. Precisa uma criança/adolescente preta ser humilhada pra escola enxergar que suas políticas antirracistas falham miseravelmente?”
Em Brasília, durante um jogo, alunos do Colégio Galois proferiram palavras ofensivas aos estudantes da Escola Franciscana Nossa Senhora de Fátima, como “macaco”, “filho de empregada” e “pobrinho”. Segundo a escola Nossa Senhora de Fátima, embora diversos responsáveis da outra escola estivessem presentes no local, não foi tomada nenhuma providência adequada no momento.
Para Ponte, é necessário que as escolas se posicionem nessas situações. “A pior resposta que a escola pode dar diante dessas situações é a permissividade em relação ao ato dessas crianças. Porque indiretamente a gente vai estar dizendo para o agressor, tudo bem você ser racista, não há nenhum problema no seu comportamento e a gente vai estar dizendo para a criança ou adolescente que foi vítima de racismo que o que você sente não importa para essa escola. Os seus sentimentos, a sua identidade étnico-racial, isso não interessa a nós, não estamos preocupados com isso. Então, nesse caso, a impunidade tem um efeito desastroso”.
Os casos não são isolados. De acordo com a pesquisa Percepções sobre o racismo, encomendada pelo Instituto de Referência Negra Peregum e Projeto Seta, e realizada pelo IPEC – Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica, a escola aparece como o ambiente onde a maioria das pessoas declarou ter sofrido racismo. Mais de um terço dos respondentes, 38%, afirmou que o racismo foi sofrido em escola, faculdade ou universidade. O espaço superou o ambiente de trabalho, com 29% dos casos, e os espaços públicos, com 28%.
Portanto, é fundamental que escolas e famílias estejam engajadas no combate ao racismo, garantindo um ambiente de aprendizado seguro e inclusivo para todos os estudantes.