Rio Grande do Sul agora se prepara para surtos de leptospirose e hepatite

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Secretaria Estadual da Saúde do RS prevê aumento expressivo de casos de leptospirose e hepatite A.

Um dos efeitos esperados pós-enchente é a chegada de novas doenças e a intensificação de outras que já circulavam no território local. Nas próximas semanas, a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul prevê aumento expressivo de casos de leptospirose e hepatite A. Essas são algumas das situações mapeadas como as mais prevalentes e que ainda estão em período de incubação, segundo publicação do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs).

Divulgado na semana passada, o guia para a população e profissionais de saúde sobre os riscos e cuidados neste período atenta para questões como doenças transmitidas pelo contato com a água, relacionadas ao consumo de água ou alimentos contaminados, e risco de contato com animais peçonhentos, por exemplo.

Com água parada há 10 dias e sem perspectiva de escoamento, outra preocupação é com o risco do aumento da dengue, que já começa a ter reflexo entre os socorristas. Após dois dias retirando pessoas das casas, debaixo de chuva, com um barco amarrado no próprio corpo, o biólogo e professor Jerônimo Loureiro, que atuou nos resgates em Porto Alegre, contraiu o vírus.

Ele começou a sentir dor no corpo e um mal-estar que veio acompanhado de febre e náuseas. No último final de semana, foi diagnosticado com a doença. “A pessoa na clínica, que fez meu teste, disse que tem muita gente com dengue em função das enchentes”, afirmou.

A veterinária Ísis Kolberg de Souza passou o sábado na água ajudando a resgatar as pessoas e os animais nos bairros Harmonia e Mathias Velho, em Canoas (RS). Os resgates tiveram efeito direto sobre a sua saúde.

“Fiquei um dia bem ruim, passei a noite inteira vomitando. Não sei exatamente o que foi a causa do vômito, se foi pelo fato de estar na água ou se por tudo o que vimos, pelo lado emocional”, diz. Após um dia inteiro com o corpo submerso até a altura do pescoço, a pele de Ísis passou a apresentar áreas avermelhadas e bastante prurido.

“No final do dia, quando saímos da água, comecei a sentir bastante dor no estômago e dor de cabeça, passei a madrugada inteira vomitando muito, sem saber se era algum motivo ligado à água, ou se algo ligado ao emocional pelo que estamos vivenciando”, desabafa. Com medicação, dieta leve e repouso, ela começou a se sentir um pouco melhor no aspecto físico. Emocionalmente, ainda sente o abalo.

Somatizar problemas emocionais no corpo, segundo a psicóloga Karine Menuzzi Fernandes, é comum em situações como estas. A tensão e ansiedade trazidas pelo imaginário da catástrofe causam insegurança.

“Não temos memórias de comparação de ter vivido nada semelhante a isso”, diz. Segundo ela, a enchente mexe com a ausência de segurança para projetar nosso senso de futuro. “As pessoas tentam se imaginar lá para a frente, mas não conseguem, ninguém sabe o que vai ser. E isso nos torna mais inseguros. Alguns se movem para ajudar, uns ficam paralisados, outros somatizam”, explica a psicóloga.

Para as equipes de saúde que atuam no enfrentamento às enchentes, a prioridade é salvar vidas, explica Sérgio Beltrão, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará. Vice-presidente da Associação Brasileira de Epidemiologia de Campo, ele conta que equipes de sanitaristas do Brasil já começam a se mobilizar para auxiliar as autoridades no enfrentamento aos eventuais surtos que irão aparecer.

“Entendemos que neste momento a prioridade é salvar vidas. Na recuperação, queremos ajudar a sociedade a reagir rapidamente às possíveis doenças e a reestabelecer a atenção à saúde. Temos vacinas atrasadas, preventivos de câncer de colo de útero… tudo atrasado. Infelizmente essa situação favorece agravos que nem se consegue mensurar agora”, explica Beltrão.

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