Coreia do Sul proíbe música da Coreia do Norte que viralizou no TikTok
Uma música de propaganda norte-coreana exaltando Kim Jong-un como “um grande líder e um pai amigável” viralizou no TikTok, com mashups (mistura de duas ou mais músicas) e danças acumulando milhões de visualizações.
Assim, a Coreia do Sul proibiu a canção devido à “guerra psicológica”.
O regulador de mídia de Seul anunciou na segunda-feira (20) que estava bloqueando o acesso a versões de “Friendly Father” (“Pai Amigável”, em tradução para o português), a propaganda que se tornou um sucesso improvável nas redes sociais.
A música foi lançada em abril durante um concerto noturno para marcar a conclusão de um projeto habitacional na capital Pyongyang, de acordo com a Agência Central de Notícias Coreana, uma empresa estatal norte-coreana.
A letra elogia Kim, que é líder da terceira geração de uma das nações mais autocráticas do mundo, e o videoclipe retrata os norte-coreanos cantando com entusiasmo a canção orquestral, proclamando que Kim “cuida de nós com carinho.”
Embora a propaganda da Coreia do Norte não seja novidade, a diferença é que desta vez “Friendly Father” foi postada no TikTok, aplicativo cujo proprietário é a gigante chinesa ByteDance.
A música se tornou viral depois que criadores de conteúdo de todo o mundo a usaram para fazer suas próprias edições do videoclipe, adicionando danças e legendas pouco sérias aos seus próprios clipes na plataforma, gerando mais de 2 milhões de visualizações.
Mas ela não foi necessariamente propaganda para Pyongyang.
“Esta não é a Geração Z declarando subitamente lealdade ao regime. Eles estão rindo do regime e não com o regime”, avaliou Alexandra Leonzini, acadêmica da Universidade de Cambridge que conduz pesquisas sobre a música norte-coreana.
Mesmo assim, autoridades de segurança sul-coreanas criticaram as paródias.
A Comissão de Padrões de Comunicações da Coreia decidiu bloquear 29 vídeos da música, seguindo um pedido do Serviço Nacional de Inteligência de Seul. Entretanto, algumas versões da música no YouTube ainda estavam acessíveis aos usuários na Coreia do Sul nesta quarta-feira (22).
“O vídeo é um conteúdo típico ligado à guerra psicológica contra a Coreia do Sul, uma vez que foi publicado num canal operado para se conectar com o mundo exterior e focado principalmente em idolatrar e glorificar unilateralmente Kim”, afirmou o regulador em comunicado.
Nova estratégia de propaganda
A proibição não foi uma surpresa, uma vez que a Lei de Segurança Nacional do país bloqueia o acesso aos sites e meios de comunicação do governo da Coreia do Norte, restringindo a exposição ao regime autocrático de Kim Jong-un e penalizando comportamentos que promovam o país.
Mais de 90% das canções de propaganda norte-coreanas são sobre idolatrar o seu líder e “Friendly Father” não é diferente, pontuou Ha Seung-hee, professora visitante de estudos da Coreia do Norte na Universidade Dongguk.
Entretanto, a música mais recente mostra uma melhoria na produção e poderá sinalizar uma nova estratégia de propaganda para o país.
“Os videoclipes da Coreia do Norte costumavam mostrar a natureza e o cenário, como algo que você veria em um karaokê com legendas, mas agora isso mudou”, ponderou Ha, acrescentando que “Friendly Father” parece ter usado melhor coreografia e edição de vídeo.
“A Coreia do Norte não pretendia, mas, quer tenha sido o algoritmo ou qualquer outra coisa, o vídeo chamou a atenção e assim que Pyongyang descobrir que é eficaz poderá criar novos conteúdos através deste método”, advertiu Ha.
A Coreia do Norte e a Coreia do Sul estão isoladas uma da outra desde que a Guerra da Coreia, em 1953, terminou com um armistício.
Os dois lados ainda estão tecnicamente em guerra e se consideram hostis, mas ambos os governos buscam há muito tempo o objetivo de, um dia, se reunificarem.
Milhões de norte-coreanos vivem em condições de pobreza sob uma ditadura totalitária, que perdurou por mais de sete décadas, abrangendo três gerações da dinastia Kim.
O regime controla tudo, desde as rações alimentares, o acesso à educação e a atribuição de empregos, e as pessoas são frequentemente colocadas em campos de trabalho extenuantes.
Fonte- CNN