Estudo revela que insônia é parte integrante da depressão
A pesquisa foi realizada com uma amostra do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo
SÃO PAULO – Um estudo inédito realizado por pesquisadores do Instituto do Sono descobriu que a insônia não é apenas um sintoma secundário da depressão, mas uma parte integrante da doença mental. A pesquisa foi realizada com uma amostra do Estudo Epidemiológico do Sono de São Paulo, envolvendo pessoas entre 20 e 80 anos.
Os participantes foram submetidos a avaliação clínica, polissonografia noturna completa e responderam a um conjunto de questionários sobre o sono. Amostras de sangue também foram coletadas para extração de DNA e genotipagem dos voluntários, com o objetivo de calcular o risco genético para problemas de sono e sintomas depressivos.
“A privação de sono de forma pontual não potencializa o desenvolvimento da depressão, mas a insônia, como um problema de sono crônico, sim”, disse a pesquisadora Mariana Moysés Oliveira, uma das responsáveis pelo estudo. Ela acrescentou que já foi comprovado que pessoas com insônia correm mais risco de ter depressão no futuro.
Segundo Mariana, as descobertas são inéditas. A insônia e os sintomas depressivos partem de origens genéticas muito parecidas. Por isso, os problemas de sono não podem ser tratados como algo secundário em pessoas com depressão, já que está demonstrado que são parte central da doença.
Para chegar ao resultado, foi aplicado um modelo estatístico, chamado escore poligênico, que permite prever o risco para doenças complexas ao considerar milhares de variantes genéticas. Isso permitiu estabelecer a interrelação entre insônia e depressão.
“Pessoas com má qualidade de sono tendiam a apresentar sintomas depressivos mais graves. Quanto maior o risco genético para queixas de sono, aumentava o risco genético para sintomas depressivos”, destacou Mariana.
Os resultados podem ser úteis para a saúde pública, pois, por meio deles, é possível estabelecer políticas que promovam a identificação precoce e o tratamento integrado, que podem ser mais eficazes na redução da carga dessas condições na sociedade.
“Acredito que as pesquisas podem levar a novos protocolos clínicos que abordem de forma integrada a saúde mental e a qualidade do sono, abrindo caminhos para a pesquisa científica e permitindo uma compreensão mais profunda das causas desses problemas de saúde”, afirmou a pesquisadora.
Segundo a pesquisadora, as doenças se manifestam geralmente por fatores genéticos, que não mudam desde a concepção, e ambientais aos quais as pessoas são expostas ao longo da vida. A pesquisa conseguiu calcular os riscos genéticos para prever os riscos maiores ou menores para o desenvolvimento de uma doença.
“Para doenças comuns, não conseguimos atribuir um único gene. Não existe o gene da depressão, da insônia ou do câncer. O risco genético é determinado por diversas, muitas vezes milhares de variações genéticas. Apenas quando avaliamos o conjunto dessas variações genéticas podemos calcular o risco genético”, salientou Mariana.
De acordo com a responsável pelo estudo, com uma amostra epidemiológica é possível identificar variações genéticas que podem ser usados como biomarcadores de risco e, entendendo as conexões genéticas, é possível desenvolver tratamentos que atacam as causas das doenças, não apenas os sintomas, reduzindo a chance de recaídas.