Matemática é estudo, prática, persistência e sorte, diz medalhista
Artur Avila provou que não se trata apenas de um dom nato ou de um talento inato
A matemática, para muitos, é vista como um desafio árduo, quase intransponível. No entanto, o matemático brasileiro Artur Avila provou que não se trata apenas de um dom nato ou de um talento inato. Em uma palestra inspiradora nesta segunda-feira (19), no início do semestre do Impa Tech, Avila compartilhou com os alunos do segundo semestre do curso de graduação do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) no Rio de Janeiro, sua trajetória, marcada pela persistência e pela prática constante.
Em 2014, Avila se destacou no cenário internacional ao ser o primeiro latino-americano a receber a Medalha Fields, o mais prestigiado prêmio da matemática, frequentemente comparado ao Nobel. Dez anos após essa conquista, ele voltou ao local onde fez sua pós-graduação para incentivar a nova geração de matemáticos a não desistirem diante das dificuldades. “Matemática não é algo que você aprende assistindo, como um esporte. Você precisa praticar”, ressaltou Avila, enfatizando a importância de mergulhar profundamente no conhecimento em vez de apenas acumular informações superficialmente.
Durante a palestra, Avila destacou que o aprendizado sólido e bem estruturado é mais valioso do que tentar cobrir uma grande quantidade de material sem realmente compreendê-lo. Ele compartilhou que, em sua formação, teve a sorte de contar com um ritmo de estudos que permitia essa profundidade: “No Impa, eram seis horas de aula por semana, o que dava tempo de aprender e, principalmente, de aprender bem”.
A realidade das escolas brasileiras, no entanto, ainda é um reflexo do que muitos estudantes enfrentam ao longo da vida acadêmica. O Brasil, segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), está abaixo da média da OCDE em proficiência matemática, com apenas 27% dos alunos alcançando o nível básico de conhecimento. O Impa Tech surge como uma resposta a esse cenário desafiador, buscando formar profissionais que possam transformar essa realidade.
Tomaz Cavalcante, 18 anos, estudante do Recife, é um exemplo de como a paixão pelos números pode começar cedo. Para ele, a oportunidade de ouvir e conversar com Avila foi um marco: “Eu sempre quis fazer algo que pudesse impactar a sociedade, e estar aqui me dá essa perspectiva”, disse ele. Bianca Morena, também de 18 anos, natural de Fortaleza, compartilhou o mesmo entusiasmo. Em um ambiente tradicionalmente masculino, ela encontrou no Impa Tech um espaço acolhedor e motivador: “Por ser menina, sempre há o receio do que as pessoas vão achar, mas aqui tem sido uma experiência muito positiva”.
O Impa Tech, curso pioneiro do Impa, é financiado pelo governo federal e tem como objetivo preparar estudantes para o mercado de tecnologia e inovação. Com duração de quatro anos, o curso oferece um ciclo básico robusto, seguido por especializações em áreas como matemática, ciência da computação, ciência de dados e física. A primeira turma é composta por alunos de diversas regiões do Brasil, selecionados com base no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e em olimpíadas científicas, como a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).
Avila finalizou sua palestra destacando que, embora a persistência seja fundamental, o timing e a habilidade de olhar para os problemas de diferentes perspectivas também são essenciais para alcançar o sucesso. Ele comparou essa habilidade com o futebol: “Assim como Romário, que sempre está no lugar certo para fazer o gol, na matemática é preciso estar preparado para aproveitar as oportunidades que surgem”.
A mensagem de Avila aos estudantes foi clara: o caminho para a excelência na matemática não está predeterminado pelo talento nato, mas sim pavimentado pela prática, pelo esforço contínuo e pela paixão pelo conhecimento. No Impa Tech, esses jovens têm a chance de trilhar esse caminho com o apoio de uma instituição que já formou grandes nomes da matemática mundial.