Bióloga brasileira monta maior coleção de cérebros de cetáceos da América Latina

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Suas pesquisas têm o potencial de esclarecer como o aquecimento global e outras atividades humanas afetam os cetáceos

Há cinco anos, a bióloga Kamilla Souza, de 33 anos, percorre o Brasil transportando cérebros de golfinhos embalsamados em fraldas e armazenados em potes, cruzando o Nordeste com picapes carregadas de encéfalos de cetáceos. Sua missão: criar a maior coleção de cérebros de cetáceos da América Latina, um projeto que tem revolucionado os estudos em neuroanatomia comparada e contribuído para a compreensão de questões evolutivas e ambientais.

Kamilla, pós-doutoranda na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e apoiada pelo Instituto Serrapilheira, já reuniu 55 encéfalos de golfinhos, armazenados em uma geladeira na UFRJ, prontos para estudos científicos. Suas pesquisas têm o potencial de esclarecer como o aquecimento global e outras atividades humanas afetam os cetáceos, além de oferecer insights sobre o cérebro humano através de análises comparativas.

Recentemente, Kamilla colheu os frutos de sua dedicação com a publicação de um estudo detalhado sobre o cérebro do boto-cinza na revista internacional Brain Structure and Function. O trabalho não só trouxe informações inéditas, mas também resolveu um antigo debate: os cetáceos possuem, sim, glândula pineal, responsável pela regulação do relógio biológico.

A trajetória de Kamilla não foi fácil. Desde os tempos de graduação, ela se deparava com a falta de material disponível para pesquisa e a ausência de expertise no Brasil. Determinada, apresentou um projeto de doutorado na UFRJ para estudar cérebros de golfinhos brasileiros, enfrentando ceticismo dos professores. Persistente, foi até o Japão aprender técnicas de extração e armazenamento de cérebros de grandes cetáceos, conhecimento que trouxe de volta ao Brasil para aplicar em sua pesquisa.

Ao longo de sua jornada, Kamilla vivenciou situações desafiadoras, como a extração do cérebro de um filhote de baleia jubarte na Bahia, além de lidar com a burocracia envolvida no transporte e nas licenças para a coleta das amostras. Com o tempo, percebeu o interesse de outros pesquisadores em aprender suas técnicas, o que a levou a fundar a Rede Brasileira de Neurobiodiversidade em 2024, atualmente composta por 14 instituições nacionais e duas internacionais.

Seu trabalho também tem implicações médicas significativas. Golfinhos, conhecidos por sua inteligência, compartilham características biológicas com humanos, como longos ciclos de vida e gestações prolongadas. Esses aspectos fazem dos cetáceos um modelo promissor para estudos de doenças degenerativas, como o Alzheimer, que eles desenvolvem espontaneamente, oferecendo um novo campo de investigação científica.

Com o apoio do Instituto Serrapilheira e parcerias com outras instituições, Kamilla está ampliando sua rede de pesquisa. Além do laboratório na UFRJ, novas bases estão sendo desenvolvidas no Espírito Santo, em colaboração com o Instituto Orca, e na Bahia, com o Instituto Baleia Jubarte. Kamilla Souza, que começou seu doutorado com a meta de coletar quatro cérebros, agora celebra mais de 50 amostras, consolidando sua posição como pioneira em estudos neuroanatômicos de cetáceos no Brasil.

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