Pesquisa revela crescimento de cursos de Especialização Médica
Segundo o levantamento, 41,2% dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu (PGLS) são totalmente a distância, com outros 11,1% operando em regime semipresencial
A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e a Associação Médica Brasileira (AMB) divulgaram um recorte da pesquisa “Demografia Médica no Brasil 2025”, antecipando dados sobre a proliferação de cursos de especialização médica na modalidade de ensino a distância. Segundo o levantamento, 41,2% dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu (PGLS) são totalmente a distância, com outros 11,1% operando em regime semipresencial.
A pesquisa avaliou 2.148 cursos oferecidos por 373 instituições e apontou que os cursos a distância têm uma duração significativamente menor (9,7 meses) em comparação aos presenciais (15,4 meses). A maior parte dessas formações é oferecida por instituições privadas, concentradas na região Sudeste, especialmente no estado de São Paulo.
O aumento desses cursos, segundo o estudo, levanta preocupações sobre a qualidade da formação dos médicos, visto que o título de especialista no Brasil só pode ser concedido após a conclusão da Residência Médica (RM) ou por meio de sociedades de especialidades filiadas à AMB. No entanto, cursos de PGLS, que exigem apenas registro no Ministério da Educação, têm sido comercializados por altos valores, chegando a R$ 30 mil, mas não garantem a qualificação necessária para a atuação como especialista.
Dr. Mário Scheffer, professor da FMUSP e coordenador da pesquisa, alerta para o risco desse crescimento desordenado. Ele atribui o fenômeno à abertura desenfreada de escolas médicas sem a correspondente ampliação das vagas de residência, o que prejudica a formação de especialistas. Scheffer defende a regulamentação desses cursos e a expansão das vagas de RM como formas de garantir uma formação adequada.
O estudo também sugere que parte desses cursos de PGLS se aproveita da nomenclatura semelhante às especialidades médicas legalmente reconhecidas, o que pode confundir profissionais e a população quanto à sua real validade. Para a AMB, a situação é preocupante, pois compromete a qualidade do atendimento médico no país.
Dr. Cesar Eduardo Fernandes, presidente da AMB, destaca que a má-formação dos profissionais tem impacto direto na saúde dos pacientes. Ele reforça a necessidade de exames de proficiência para garantir que apenas médicos devidamente capacitados possam atuar como especialistas, protegendo assim a qualidade do atendimento médico no Brasil.
A pesquisa completa será divulgada em 2025, mas já levanta importantes discussões sobre a formação médica e a privatização do ensino no país, com implicações diretas na saúde pública e no Sistema Único de Saúde (SUS).