Dívida pública ameaça sustentabilidade econômica e setor empresarial
O cenário de risco está ligado diretamente à redução da competitividade do país e à diminuição da capacidade de investimento privado
O crescimento descontrolado da dívida pública no Brasil traz preocupações sobre os impactos profundos que pode gerar ao longo das próximas cinco décadas. Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgado hoje, aponta que o aumento da dívida poderá provocar um prejuízo superior a R$ 1,375 trilhão, ameaçando a saúde financeira do setor empresarial. Esse cenário de risco está ligado diretamente à redução da competitividade do país e à diminuição da capacidade de investimento privado.
Segundo a CNC, o aumento de um ponto percentual na relação entre dívida pública e PIB custa ao Brasil aproximadamente R$ 1,3 bilhão por ano, elevando o custo do crédito e pressionando o setor produtivo. A entidade destaca que, sem reformas estruturais, como a reforma administrativa, o país enfrentará dificuldades crescentes para equilibrar suas contas públicas. A CNC vê essa reforma como essencial para evitar a estagnação econômica, que colocaria o setor privado sob uma pressão insustentável.
Nos últimos 20 anos, o crescimento dos gastos públicos tem superado o das receitas, alimentando déficits e forçando o governo a se endividar ainda mais. Entre 2002 e 2023, a dívida pública saltou de 45,3% para 77,8% do PIB, com previsão de continuar crescendo. Essa dinâmica impacta diretamente a capacidade de o governo realizar investimentos em áreas como infraestrutura, saúde e educação — setores vitais para a competitividade empresarial.
A CNC alerta que, sem medidas de controle, a carga tributária poderia aumentar até 9% do PIB, comprometendo o desempenho do setor produtivo. Atualmente, a carga tributária brasileira corresponde a cerca de 33% do PIB, uma das maiores do mundo, o que já representa um fardo significativo para as empresas. Com 96% das despesas do governo sendo obrigatórias, a margem para ajustes é mínima, agravando ainda mais a situação fiscal.
A reforma administrativa, segundo estimativas da CNC, poderia gerar uma economia de R$ 330 bilhões em uma década e atrair novos investimentos por meio de privatizações e concessões. No entanto, sem essa reforma, o setor empresarial enfrentará desafios ainda maiores, como a elevação dos custos de financiamento, retração de investimentos e perda de competitividade.
Além disso, o estudo da CNC destaca a necessidade de corrigir distorções na alocação de recursos públicos, especialmente na educação. O Brasil investe mais por aluno no ensino superior do que no ensino fundamental, contribuindo para o fraco desempenho em avaliações internacionais.
Com a campanha lançada recentemente pela CNC para alertar sobre a urgência da reforma administrativa, o setor empresarial busca reforçar a importância de uma ação imediata para frear o crescimento da dívida pública e garantir um ambiente econômico mais estável e competitivo.