Desafios nas Eleições de Municípios de Fronteira Exigem Soluções para Crime e Contrabando
Outro problema alarmante é a evasão escolar, diretamente ligada às atividades ilícitas
As eleições municipais deste domingo (6) destacam os desafios únicos enfrentados pelos eleitores das regiões de fronteira do Brasil. Com 588 municípios situados ao longo dos 150 quilômetros que separam o país de seus vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Venezuela, essas áreas são marcadas por problemas específicos, como a alta evasão escolar, a presença do crime organizado e uma economia dominada pelo contrabando.
Segundo especialistas, a falta de projetos de desenvolvimento econômico é um dos principais fatores que impedem o combate eficaz ao contrabando e à crescente influência do crime. Luciano Stremel Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), destaca que as regiões de fronteira foram as últimas a receber investimentos no país, o que resultou em infraestruturas precárias e falta de atividades econômicas significativas. Esse atraso dificulta a criação de mecanismos que possam impulsionar o crescimento econômico e reter os jovens na educação.
Além dos desafios econômicos, a segurança pública também é uma grande preocupação. Com o Brasil atuando como rota para o tráfico de drogas internacionais, o crime organizado tem se infiltrado nas estruturas estatais dessas cidades. O professor Tomaz Espósito, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), alerta para a participação de grupos criminosos em serviços públicos, como coleta de lixo e transporte, utilizados para lavagem de dinheiro e compra de apoio político.
Outro problema alarmante é a evasão escolar, diretamente ligada às atividades ilícitas, como o contrabando e o tráfico de drogas. Jovens de apenas 15 ou 16 anos encontram no crime uma oportunidade mais lucrativa do que qualquer outra opção local, recebendo quantias que variam de R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês. Isso faz com que muitos abandonem os estudos em busca de um retorno financeiro mais imediato.
O contrabando, em particular, é parte da cultura econômica dessas regiões. A falta de alternativas legais de emprego e o fraco desenvolvimento econômico levam muitos a verem o contrabando como uma atividade normal e necessária para a sobrevivência. Estima-se que o contrabando movimente centenas de bilhões de reais no Brasil anualmente, gerando uma sonegação significativa de impostos e minando a capacidade financeira dos municípios.
Diante desses desafios, o governo federal anunciou, em maio, a criação da Política Nacional de Fronteiras, com o objetivo de promover a segurança e o desenvolvimento sustentável nessas áreas. Embora considerada um avanço, especialistas como Luciano Stremel Barros ressaltam a necessidade de maior integração entre os governos federal, estadual e municipal para que os impactos dessa política sejam efetivos e contribuam para a redução da criminalidade e a geração de oportunidades econômicas legais nas regiões de fronteira.
O desenvolvimento do turismo e de outras atividades sustentáveis são alternativas frequentemente citadas como potenciais motores de crescimento econômico para essas áreas. No entanto, para que esses planos possam ser viabilizados, é essencial que haja capacitação e uma maior articulação política e administrativa, algo que, até agora, tem sido um grande obstáculo para muitas cidades fronteiriças.