O descaso ambiental no Rio Acaraú e o Brasil no espelho da desigualdade socioambiental:
Uma análise realista sobre a urgência.
O Rio Acaraú, que corta o município de Sobral, localizado ao norte do Ceará, a 235km de distância de Fortaleza, simboliza a degradação ambiental e o desrespeito à natureza promovidos pelas autoridades locais. Com promessas feitas, pela atual gestão, de investimentos na ordem de R$ 4 milhões para saneamento e urbanização, a cidade deveria estar em uma condição muito melhor, mas o rio segue poluído e abandonado, com esgoto despejado diretamente em suas águas e lixo acumulado em suas margens. Apesar do discurso oficial, as melhorias anunciadas nunca se concretizaram de forma efetiva, deixando a população cada vez mais frustrada.
A situação é ainda agravada pela polêmica “taxa do lixo”, implementada de forma inconstitucional em Sobral, que não resultou em melhorias visíveis no saneamento básico e nem na destinação correta dos resíduos. A ironia é que, enquanto o cidadão comum paga por um serviço ineficiente, a elite política e econômica usufrui de condições de vida privilegiadas, sem se importar com a deterioração do meio ambiente. Assim, Sobral continua a enfrentar a proliferação de doenças como a dengue, causada pela infestação exacerbada de mosquitos que se proliferam nas águas contaminadas e estagnadas.
A cultura de consumo excessivo e ostentação não se limita à população sobralense, mas é o reflexo de uma tendência nacional. Em todo o Brasil, observa-se que as classes mais abastadas contribuem desproporcionalmente para o aumento da pegada de carbono. Muitos jovens da elite ganham carros populares ainda na adolescência, e famílias endinheiradas gastam cada vez mais em carros 4×4 do lançamento e aparelhos de ar-condicionado de última geração, e até aviões, jatinhos particulares, entre outros veículos que demandam alta concentração de gases do efeito estufa em sua produção e uso, desconsiderando completamente os impactos ambientais dessas práticas. Esse consumo excessivo gera uma demanda maior por combustíveis fósseis, poluindo o ar e contribuindo para as mudanças climáticas que já se fazem sentir.
A deturpação do conceito de “ecoterrorismo” por parte de negacionistas ambientais apenas piora a situação. Para justificar suas práticas insustentáveis e refutar a urgência da crise climática, essas pessoas tentam deslegitimar o ativismo ambiental, tachando-o de extremismo ou terrorismo. Esse discurso, amplamente difundido por políticos e empresários que lucram com a exploração do meio ambiente, retira a atenção das questões realmente urgentes. Quando figuras como o líder Ailton Krenak e a física e ativista indiana Vandana Shiva alertam para a necessidade de reavaliar nosso modo de vida e nossa relação com a natureza, são frequentemente marginalizados por essas narrativas desonestas. Afinal, o verdadeiro terrorismo ambiental reside na segregação dos mais pobres ao acesso a recursos enquanto se degrada o único ambiente de que eles dispõem, estigmatizando favelas e comunidades apenas pela violência que ocorre nesses locais, quando, na verdade, essa violência é fruto de um sistema de desigualdade e segregação imposto por uma classe dominante. Essa mesma classe prega que as pessoas nesses locais podem conquistar melhores condições apenas com trabalho, quando, na prática, muitos de seus empregadores as mantêm em péssimas condições e com salários insuficientes por toda a vida, perpetuando o problema. O verdadeiro terrorismo é, portanto, destruir o meio ambiente e, depois, culpar as vítimas dos desastres que resultam dessa destruição.
Esse descaso ambiental afeta, exponencialmente, as populações mais pobres, que dependem diretamente dos recursos naturais para sua subsistência. Comunidades que vivem próximas a rios, florestas e mangues são as primeiras a sofrer com a destruição desses ecossistemas. Enquanto a elite aumenta seu conforto às custas do meio ambiente, os mais pobres perdem acesso à água potável, alimentos e fontes de renda sustentável, agravando ainda mais a desigualdade social. Em Sobral, por exemplo, a falta de saneamento e o acúmulo de resíduos no Rio Acaraú comprometem a saúde e a qualidade de vida das famílias que residem em suas margens, o que leva muitas à situação de rua, desemprego ou até morte causada pelas más condições que cerceiam o rio. Esse que um dia já foi tido como “praia de água doce” para a população.
A crise ambiental que afeta o Rio Acaraú se espelha em inúmeros casos por todo o país, onde desastres ambientais como o rompimento de barragens e o desmatamento desenfreado na Amazônia têm se tornado comuns. Esses eventos são, em sua maioria, consequência direta de decisões irresponsáveis das elites políticas locais e da falta de fiscalização. O uso descontrolado de recursos naturais para sustentar um padrão de consumo que visa ao lucro imediato acaba resultando em danos irreversíveis, que afetam principalmente as populações que vivem próximas a essas áreas devastadas.
Em contraste, exemplos como o do vereador reeleito e vice-presidente da Comissão de Política Urbana e Meio Ambiente, e também da Comissão de Cultura, Esporte e Juventude da Câmara Municipal de Fortaleza, Gabriel Biologia, mostram que é possível ter uma abordagem política completamente comprometida com a sustentabilidade. Gabriel defende a proteção dos recursos naturais e a implementação de políticas que priorizem a recuperação ambiental. Há mais de 10 anos, o parlamentar vivencia uma luta pela preservação da nossa fauna, flora e dos ecossistemas de Fortaleza e do Ceará. E em sua recente campanha a reeleição, ele utilizou de folhas caídas das árvores para divulgar sua candidatura ao invés de imprimir papéis de “santinho político”. Ao invés de perpetuar a cultura de consumo irresponsável, ele promove uma perspectiva que valoriza o meio ambiente e que entende que o “amanhã não está à venda”, como bem diz Ailton Krenak em seu livro “A vida não é útil”.
As palavras do poeta William Wordsworth ressoam como um alerta urgente: “A natureza nunca traía o coração que a amava”. A degradação do Rio Acaraú e outros recursos naturais ao redor do Brasil são um reflexo das escolhas equivocadas de uma sociedade que valoriza o egoísmo, a antipatia, sobretudo, o status e o consumo acima do respeito pelo meio ambiente e pela vida do seu próximo. Precisamos de uma mudança de mentalidade, onde a sustentabilidade e a justiça ambiental sejam prioridades. Somente assim poderemos assegurar um futuro onde todos tenham acesso a um meio ambiente limpo e saudável e, consequentemente, boas condições de vida e alimentação a todos, uma vez que a natureza só está ali, fornecendo, de maneira democrática a quem quiser, e que, quem cria burocracias a essa qualidade da democracia, não é ninguém menos que o próprio Homem em seu egoísmo “antropocênico”.