Pesquisa revela que 78% dos lixos plásticos encontrados nas areias das praias do Ceará vieram da África

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Conforme a pesquisa revelou, o lixo chegou até a costa cearense trazido pelas correntes marítimas do oceano Atlântico

Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará (UFC) revelou que 78% do lixo plástico encontrado nas areias das praias cearenses tem origem em países africanos. O dado foi obtido pelo projeto Detetive Plástico, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar).

De acordo com o projeto, esse lixo plástico encontrado nas areias vem de países como Costa do Marfim, África do Sul, Camarões, Angola, Nigéria e Gana. Há também registro de lixo de países como Alemanha e China. No entanto, a maior parte vem da República Democrática do Congo.

Conforme a pesquisa revelou, o lixo chegou até a costa cearense trazido pelas correntes marítimas do oceano Atlântico. O trajeto dos plásticos do continente africano até o litoral do estado leva entre 6 e 11 meses.

Conforme a pesquisa, o lixo coletado tinha origem:

África: 78,5% (desse porcentagem, cerca 90% era da República Democrática do Congo)
Brasil: 15,7%
Ásia (Índia, China e Emirados Árabes Unidos) e Europa (Alemanha e Itália): 5,8%


O resultado da pesquisa foi publicado em artigo nomês passado na revista internacional Science of the Total Environment , com o nome “Uma ameaça transcontinental: lixo plástico da África invade a costa do Brasil”.

Segundo o projeto Detetive Plástico, entre os itens comumente encontrados nas areias das praias estão canudinhos, copos descartáveis, embalagens de picolé, tampinhas de garrafa e garrafas pets.

E foi justamente ao observar uma tampinha que surgiu a ideia da pesquisa. Em novembro de 2022, o professor visitante do Labomar, Tommaso Giarrizzo, estava na Praia do Porto das Dunas acompanhando o monitoramento do óleo quando notou uma embalagem distinta.

Para embasar a pesquisa, o grupo coletou amostras de lixo em três praias distintas do litoral cearense:

Praia do Porto das Dunas, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, onde há grande concentração de resorts;
Praia do Futuro, em Fortaleza, onde há grande ocupação residencial
Parque Nacional de Jericoacoara, a cerca de 320 quilômetros das outras duas praias, considerado de acesso mais remoto e mais protegido
Um problema transatlântico: da África para o Brasil
Com as tampinhas, garrafas pet e outras embalagens em mãos, o grupo passou a pesquisar a origem das marcas encontradas. Entre elas, empresas como Festa, Zest e Swissta. Todas da República Democrática do Congo (RDC).

Os índices surpreenderam os pesquisadores. É que a República Democrática do Congo – diferente da República do Congo – possui um litoral de apenas 37 quilômetros de extensão, uma área pequena para uma quantidade relevante de despejo de lixo. A explicação, porém, estava na água do rio Congo.

O rio é um dos dez maiores do mundo, e o segundo maior da África. Ele possui uma extensão de mais de 4.700 quilômetros, atravessando a maior parte do território da República Democrática do Congo (RDC).

No caminho até sua foz, na fronteira da RDC com a Angola, o rio acaba sendo destino de boa parte dos despejos de lixo plástico do país. O destino final das águas do rio Congo – e o lixo trazido com elas – é justamente o Oceano Atlântico.

“Através da nossa pesquisa, com a modelagem matemática, foi possível comprovar que uma porção desse plástico que é exportada pelo rio Congo consegue chegar até o litoral nordeste do Brasil, descendo até Alagoas e subindo até o Pará”, explica o professor Tommaso Giarrizzo. “Pelas correntes norte, esse plástico pode chegar até o Caribe ou sul dos Estados Unidos”.
O estudante de doutorado e membro do projeto, Lúcio Brabo, que co-escreveu o artigo, destaca que o lixo que chega até as praias do Ceará é apenas uma pequena parcela do que é despejado na costa da África – a maior parte permanece na costa do continente.

No entanto, essa quantidade de plásticos tem sido suficiente para alcançar o litoral do Nordeste e compor a maior parte do material encontrado nas areias. O grupo vem realizando o monitoramento do plástico há um ano e seis meses, e todos os meses eles têm encontrado plásticos do exterior.

“A gente achava que era um evento esporádico, um evento na África que chegou ao oceano e porventura chegou até aqui”, pontua. No entanto, a frequência mostrou que se tratava de um fenômeno recorrente. “Esse despejo lá na África está acontecendo periodicamente, e periodicamente está chegando aqui”, afirma Lúcio.

O problema é uma questão transatlântica: do mesmo modo que o lixo da costa da África veio parar no Brasil, os pesquisadores suspeitam que o lixo do Brasil lançado nas águas também chegue a outros países e continentes.

Fonte- G1

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