Estudo revela ineficácia de internações para usuários de crack na Cracolândia

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
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O estudo também lançou luz sobre o vínculo dos entrevistados com a região da Cracolândia

Um levantamento inédito, conduzido pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getulio Vargas (NEB/FGV), pelo Centro de Estudos da Metrópole da Universidade de São Paulo (CEM/USP) e pelo Grupo de Estudos (in)disciplinares do Corpo e do Território (Cóccix), trouxe à tona dados que questionam a eficácia do modelo atual de tratamento para usuários de drogas na Cracolândia, região central de São Paulo conhecida pela alta concentração de dependentes de crack. O estudo, baseado em entrevistas com 90 pessoas que vivem na área, revelou que 70% já foram internadas pelo menos uma vez, com alguns casos de mais de 30 internações, o que, segundo os pesquisadores, sinaliza a falha das políticas públicas em vigor.

Realizada em julho e agosto de 2022, a pesquisa constatou que a maioria dos participantes, composta em sua maioria por homens negros entre 30 e 49 anos, encara a internação mais como uma pausa temporária do uso de drogas do que como uma solução efetiva. A internação, nesse contexto, é percebida como um espaço para descanso e recuperação física, mas não atende à necessidade de um tratamento duradouro.

O estudo também lançou luz sobre o vínculo dos entrevistados com a região da Cracolândia: enquanto 69% dormem nas ruas, 40% afirmaram que permanecem na área por escolha própria, descrevendo o lugar como um espaço de pertencimento. A análise também revela que, apesar das condições de vida, metade dos entrevistados mantém contato com familiares e que mais de dois terços realizam atividades produtivas, como reciclagem e venda de objetos, para gerar renda.

Para os autores do estudo, esses dados reforçam a necessidade de repensar o modelo de tratamento e as políticas públicas voltadas a essa população. Segundo eles, o retrato fornecido pelos próprios usuários revela que as intervenções atualmente adotadas falham em abordar as complexas necessidades e a realidade cotidiana de quem vive e usa drogas na Cracolândia.

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