Faculdades e EaD podem aumentar o acesso ao ensino público superior
A meta é expandir o acesso de estudantes ao ensino superior público
A democratização do ensino superior e o fortalecimento da educação a distância são alguns dos principais objetivos das novas propostas apresentadas pela Academia Brasileira de Ciências (ABC). Em seu relatório “Um olhar sobre o ensino superior no Brasil”, divulgado nesta quinta-feira (7), o grupo de trabalho da ABC expõe uma série de recomendações voltadas para a ampliação do acesso à educação pública e de qualidade.
Dentre as propostas está a criação de faculdades federais voltadas exclusivamente para o ensino, focadas na formação de profissionais qualificados a custos mais baixos. A meta é expandir o acesso de estudantes ao ensino superior público, concentrando recursos em instituições que visem unicamente ao ensino, sem incluir atividades de pesquisa e extensão, como ocorre nas universidades federais. Segundo o professor Rodrigo Capaz, do Instituto de Física da UFRJ e membro da ABC, esse modelo de instituições focadas no ensino já foi adotado com sucesso em outros países, permitindo maior acesso ao ensino superior a um custo mais sustentável.
A proposta visa também ampliar a oferta de cursos noturnos e aumentar o número de vagas em educação a distância (EaD), uma modalidade em forte expansão. Dados da ABC mostram que entre 2011 e 2021 o número de alunos em EaD cresceu 474%, enquanto o ingresso em cursos presenciais caiu 23,4%. Para Capaz, o ensino a distância é uma necessidade crescente e irreversível. Ele destaca a flexibilidade oferecida pela EaD, que atende estudantes de regiões remotas e aqueles que precisam de horários adaptados.
Ainda assim, a expansão da EaD acende alertas sobre a qualidade desses cursos, levando o Ministério da Educação (MEC) a suspender a criação de novas vagas até 2025 para revisar o marco regulatório. Atualmente, as instituições privadas dominam o ensino a distância no país, mantendo 71,7% das vagas, enquanto apenas 12,9% são públicas. A proposta sugere que o setor público aumente sua participação, garantindo uma educação acessível e de qualidade.
Outro ponto relevante do relatório é a criação de Centros de Formação em Áreas Estratégicas (CFAEs) nas universidades públicas. Esses centros abrangeriam áreas como bioeconomia, transição energética e inteligência artificial, promovendo soluções aplicáveis e desenvolvimento de tecnologias para setores considerados prioritários para o desenvolvimento do Brasil.
A presidente da ABC, Helena Nader, defende a priorização da educação, mesmo em um contexto de corte de gastos pelo governo federal. Para ela, uma educação sólida é essencial para uma economia estável e para a justiça social. Capaz concorda e reforça que o aumento do acesso ao ensino superior é essencial para o crescimento do país e para a formação de uma sociedade mais qualificada e justa.
Essas propostas do grupo de trabalho da ABC ressaltam a urgência de reformular o sistema de ensino superior público no Brasil, para torná-lo mais inclusivo, acessível e alinhado às novas demandas da sociedade e do mercado de trabalho. A iniciativa visa oferecer melhores oportunidades a uma parcela maior da população, promovendo o desenvolvimento de um Brasil mais justo e economicamente estável.