Boletins de ocorrência por crimes raciais crescem quase 1.000% em SP
O estudo destacou que o crime mais frequente é o de discriminação por raça, etnia e cor, representando 26,4% dos casos em 2023
A Ouvidoria das Polícias de São Paulo revelou um aumento impressionante nos registros de crimes raciais entre 2020 e 2023, com uma alta de 968,5% no período. Em números absolutos, os boletins de ocorrência saltaram de aproximadamente 470 casos em 2020 para mais de 4.700 em 2023. No último ano, o crescimento foi de 218%. Cerca de 80% dos casos registrados ocorreram na capital e região metropolitana.
O estudo destacou que o crime mais frequente é o de discriminação por raça, etnia e cor, representando 26,4% dos casos em 2023. Outros tipos de discriminação também foram relatados, como homofobia e transfobia (7,96%), intolerância religiosa (1,17%) e preconceito por origem (0,61%). Entretanto, 63% dos registros ainda carecem de uma tipificação precisa, um ponto que, segundo o ouvidor Cláudio Aparecido da Silva, evidencia os desafios na identificação e categorização desses crimes.
Para Silva, o aumento não reflete necessariamente um crescimento nos crimes cometidos, mas sim uma evolução no registro e no reconhecimento desse tipo de violência. Ele atribui parte desse avanço à equiparação da injúria racial ao crime de racismo, sancionada pela Lei 14.532 em 2023. “As pessoas estão mais encorajadas a buscar o Poder Público e denunciar”, destacou o ouvidor.
Apesar do progresso, Silva enfatizou que a polícia precisa de mais preparo técnico para conduzir investigações e lidar com a crescente demanda de casos. Ele ressaltou que a confiança da população no sistema é um fator positivo, mas exige maior compromisso para garantir que os casos resultem em Justiça.
O levantamento, realizado em parceria com a Fundação Friedrich Ebert, será compartilhado com o governo federal, buscando ampliar a abrangência dos dados para outros estados.
A divulgação dos dados antecede a XXI Marcha da Consciência Negra, que acontece no dia 20 de novembro na Avenida Paulista. Este ano, a marcha homenageia Flávio Jorge Rodrigues da Silva, ativista e fundador de importantes organizações negras no Brasil, que faleceu em junho aos 70 anos.
Além da marcha, a programação inclui exposições fotográficas, shows e palestras. O Distrito Anhembi será palco da IV Expo Internacional Dia da Consciência Negra, ampliando o espaço para debates e celebrações da luta pela igualdade racial no Brasil.