Pesquisadoras enfrentam desafios de saúde mental e falta de apoio

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Mães de crianças com deficiência tiveram quase 60% de probabilidade de apresentar sintomas de depressão

Uma pesquisa apresentada como dissertação de mestrado em Ciências Biomédicas pela Universidade Federal Fluminense revelou que mães cientistas apresentam quase o dobro de sintomas de depressão em comparação a pais na mesma carreira. O estudo, conduzido pela pesquisadora Sarah Rocha Alves, apontou que 42% das mães entrevistadas mostraram sinais da doença, enquanto esse índice foi de 22% entre os pais.

Sarah atribui essa diferença à sobrecarga enfrentada pelas mulheres no trabalho doméstico e nos cuidados com os filhos, que ainda recai desproporcionalmente sobre elas. Dados da pesquisa reforçam essa conclusão, indicando que mães solo, sem rede de apoio ou com filhos que possuem deficiência estão entre os grupos mais vulneráveis.

Mães de crianças com deficiência tiveram quase 60% de probabilidade de apresentar sintomas de depressão, enquanto mais de 54% das mães negras também relataram alta prevalência da condição. Esses números foram coletados entre março e junho de 2022, quando as atividades acadêmicas já estavam parcialmente retomadas após o pico da pandemia de covid-19. “Mesmo nesse período de arrefecimento, as mulheres ainda estavam sobrecarregadas, conciliando múltiplas responsabilidades, o que potencializou o impacto na saúde mental”, explicou a pesquisadora.

Além das questões de saúde, a sobrecarga compromete o desenvolvimento profissional dessas cientistas. Apesar de as mulheres serem maioria nos cursos de graduação e pós-graduação, poucas conseguem superar barreiras estruturais que limitam sua ascensão a cargos superiores. Esse fenômeno, conhecido como “teto de vidro”, é agravado por uma queda significativa na produtividade acadêmica que pode durar até seis anos após o nascimento dos filhos, conforme levantamento do movimento Parent in Science.

Sarah destaca a importância de políticas institucionais para mitigar essas desigualdades. Iniciativas como os editais exclusivos para mães cientistas, implementados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro, e os créditos adicionais para pesquisadores com filhos nas seleções acadêmicas da Universidade Federal Fluminense são exemplos de medidas positivas. A pesquisadora também elogia a recente lei que prorroga prazos de conclusão na educação superior para pessoas que tiveram filhos, sancionada em julho.

Mudanças na cultura acadêmica e a criação de redes de apoio são apontadas como caminhos fundamentais para reduzir os impactos na saúde mental e no progresso profissional dessas mulheres. “Precisamos avançar em políticas públicas que reconheçam as dificuldades enfrentadas por mães cientistas, não apenas para preservar sua saúde, mas também para garantir que elas alcancem todo o seu potencial em suas carreiras”, conclui Sarah.

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