Vermes marinhos reaparecem após quase 70 anos
A descoberta ganhou força com a análise de imagens compartilhadas no site iNaturalist
Após décadas desaparecido, o verme marinho Haplosyllis anthogorgicola foi reencontrado por pesquisadores graças a uma combinação improvável: fotografias subaquáticas e cavalos-marinhos pigmeus. Com apenas 6 milímetros de comprimento, essa espécie de poliqueta vive em colônias de corais entre o Japão e a Austrália, mas não era observada diretamente na natureza desde 1956, quando foi identificada pelo biólogo Huzio Utinomo.
A redescoberta começou com Ai Takahata, estudante da Universidade de Ryukyus, no Japão, que encontrou os vermes enquanto pesquisava a camuflagem de cavalos-marinhos pigmeus (Hippocampus bargibanti). O momento decisivo veio quando cortou um ramo de coral e notou vermes emergindo. Esses pequenos animais, praticamente invisíveis devido à sua transparência, habitam as estruturas ramificadas dos corais gorgônias.
A descoberta ganhou força com a análise de imagens compartilhadas no site iNaturalist, onde mergulhadores publicam fotos detalhadas da biodiversidade marinha. Nas imagens, os cientistas encontraram evidências de túneis, apêndices e até vermes interagindo diretamente com cavalos-marinhos. Cerca de 84% dos corais fotografados apresentavam sinais de infestação por vermes.
Antes deste estudo, sabia-se pouco sobre a distribuição do H. anthogorgicola. Agora, registros fotográficos ampliaram seu alcance geográfico para regiões como Austrália, Timor Leste, Indonésia, Malásia e Filipinas. As imagens também revelaram que esses vermes não dependem exclusivamente do coral Anthogorgia bocki, conforme sugerido no estudo original de 1956, mas habitam outros corais do gênero.
A pesquisa destaca como as interações entre os vermes e os corais ainda são pouco compreendidas. Em algumas imagens, os vermes pareciam roubar comida dos pólipos do coral; em outras, sugeriam um comportamento de limpeza. Essa redescoberta exemplifica como tecnologias acessíveis, como câmeras subaquáticas e plataformas colaborativas, podem revelar aspectos antes invisíveis da biodiversidade marinha.
A autora do estudo, Chloé Fourreau, observa que os vermes dependem quase inteiramente das suas tocas nos corais, passando grande parte do tempo detectando o ambiente ao redor. “Ainda há muito a aprender sobre sua relação com os corais e o papel que desempenham nos ecossistemas marinhos”, conclui.