Facções rivais se aliam em presídios do Ceará para pressionar o Estado
O caso lança luz sobre o desafio crescente enfrentado pelas autoridades no Ceará
Um relatório da Coordenadoria de Inteligência (Coint) da Secretaria da Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará (SAP) revelou uma aliança inédita entre facções criminosas rivais nas ruas do Estado. Lideranças da Guardiões do Estado (GDE), Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) uniram forças nos presídios cearenses no final de 2023 para planejar ações coordenadas contra o poder público e exigir mudanças no Sistema Penitenciário.
O documento, que embasou uma manifestação do Ministério Público do Ceará (MPCE), trouxe detalhes sobre as articulações entre os grupos. Entre os dias 25 e 28 de setembro de 2023, chefes das facções, custodiados em diferentes unidades prisionais do Ceará, realizaram reuniões durante os períodos de banho de sol. Nesses encontros, foram emitidos “salves” com ordens para suas bases em todo o Estado, segundo o MPCE.
A principal ameaça girava em torno de possíveis ataques a prédios públicos, ônibus e instalações do governo. As facções haviam estipulado que, caso suas demandas não fossem atendidas, os atos de violência seriam iniciados em 4 de outubro daquele ano. Além disso, os líderes exigiram a presença de representantes do Governo do Ceará para negociar suas reivindicações.
A gravidade do cenário levou o Ministério Público a pedir a inclusão definitiva de Adailo de Sousa Costa, apontado como chefe da GDE, no Sistema Penitenciário Federal de Segurança Máxima. A medida visava neutralizar a influência de lideranças no sistema estadual. Apesar das ameaças de violência, os ataques previstos não se concretizaram.
O caso lança luz sobre o desafio crescente enfrentado pelas autoridades no Ceará: o de conter as articulações de grupos criminosos dentro e fora dos presídios, onde as fronteiras entre facções rivais podem ser momentaneamente suspensas em prol de objetivos estratégicos.