O levantamento revelou que 29,4% das famílias têm dívidas em atraso, o maior percentual desde outubro do ano passado
Os consumidores brasileiros enfrentaram mais um mês de elevada inadimplência em novembro, segundo dados divulgados pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O levantamento revelou que 29,4% das famílias têm dívidas em atraso, o maior percentual desde outubro do ano passado. Além disso, 12,9% dos consumidores declararam não ter condições de quitar seus débitos, um leve aumento em relação aos 12,6% registrados em outubro.
O uso do crédito, impulsionado pelas compras de fim de ano, contribuiu para o avanço do endividamento, que chegou a 77% das famílias, ante 76,6% no mesmo período do ano anterior. Apesar disso, o percentual de consumidores que se consideram muito endividados caiu para 15,2%, o menor índice desde novembro de 2021. Segundo o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros, a mudança reflete maior consciência na gestão financeira, mesmo diante de uma alta sazonal no crédito.
As famílias de menor renda, que ganham até três salários mínimos, foram as mais impactadas, com 81,1% relatando endividamento, enquanto 37,5% delas têm dívidas em atraso. Entre essas famílias, 18,5% afirmaram não ter condições de quitar seus débitos. Já entre as famílias com renda superior a 10 salários mínimos, o endividamento caiu para 66,7%. Nesse grupo, apenas 5% declararam incapacidade de pagamento, refletindo maior planejamento financeiro.
A pesquisa também apontou uma leve redução no comprometimento médio da renda com dívidas, que passou para 29,8%, e no percentual de consumidores com mais da metade da renda comprometida, que caiu para 20,3%, menor nível desde agosto deste ano. Cerca de 35,9% das famílias conseguiram negociar prazos mais longos para quitar suas dívidas, o maior índice desde dezembro de 2021.
O cartão de crédito segue como a principal modalidade de endividamento, representando 83,8% das dívidas familiares. Contudo, essa modalidade teve uma leve retração em relação ao mesmo período do ano passado. Em contrapartida, o crédito pessoal continuou em alta, sendo favorecido por menores taxas de juros.
Com o impacto das compras de Natal, a CNC projeta um aumento no endividamento em dezembro, mas a inadimplência deve permanecer estável, devido à cautela financeira das famílias diante de um cenário econômico ainda marcado por juros elevados. Para o economista Fábio Bentes, a recuperação do consumo depende de uma gestão responsável do crédito, o que tem sido observado na busca por equilíbrio mesmo em meio a adversidades econômicas.