Assédio sexual em escola: Justiça arquiva denúncia e causa revolta em familiares

Compartilhe

Os pais de uma adolescente que sofreu assédio sexual de um professor dentro da escola Maria Dorilene de Arruda Aragão ainda não se conformam com o arquivamento da denúncia. Sem muita instrução, os pais ainda acreditam na Justiça, embora o documento apresentado não deixe dúvida: a denúncia foi arquivada. Sem provas, resta a família curtir a dor e o trauma sofrido pela filha, que chegou a tentar o suicídio por duas vezes.

O caso ocorreu no primeiro semestre de 2018 e foi arquivado em dezembro do ano passado. A mãe, Maria Dalva Silva, moradora da Vila Betizaida, na BR- 222, do Distrito Industrial, conta que sua filha sofreu o assédio dentro da escola. ” Por três vezes, o professor se aproximou dela, no intervalo de almoço, passando a mão nas coxas, por debaixo da camisa, nos seios… Sem o consentimento dela”. Para a adolescente ficar em silêncio ele fazia ameaças contra ela, que atingiriam seus pais.

A adolescente só conta hoje com o apoio da família e do Conselho Tutelar.

A mãe disse que a garota passou a sofrer em silêncio, antes de contar o ocorrido. “Minha filha, que vivia angustiada, teve uma irritação grave na pele; chegou a tomar medicamentos para se matar, e até se mutilou nos braços, por causa desse assédio.

Na época, dona Dalva levou o caso à direção da escola, mas se surpreendeu com o que ouviu do, até então diretor, Sérgio Barbosa Alves. “Ele duvidou da palavra da minha filha, dizendo que ela poderia estar mentindo. E ainda disse que o próprio professor poderia entrar com uma acusação contra a gente. Pelo jeito, ele queria acobertar tudo. Eu logo procurei o Conselho Tutelar e a Delegacia da Mulher, onde contamos tudo no Boletim de Ocorrência que foi aberto. Mesmo assim, ficamos com medo. Eu, como mãe, achava que minha filha estava segura na escola, e, de lá para cá, vejo que tem ocorrido mais casos que estão impunes”, diz, com a voz embargada, dona Dalva, ao lado do marido, Reginaldo Silva Sousa.

Reginaldo e Dalva, os pais, ainda esperam por Justiça.

Para o pai da menina, “é muito triste o prefeito dizer que é um caso à parte, esse de abuso sexual dentro de escolas aqui de Sobral. Ele continua insistindo que não está acontecendo nada. O prefeito, como autoridade máxima da cidade, deveria dar apoio às famílias, procurar ajudar, mas faz é esconder”, disse o pai, revoltado, ao lado do conselheiro tutelar Sândalo Linhares, que buscou a família para oferecer apoio psicológico e emocional.

Segundo Sândalo Linhares, os três serão atendidos por profissionais do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas). “A menina, ainda precisa de acompanhamento psicossocial, tanto do Creas, quanto do Cras (Centro de Referência da Assistência Social), do território, para que seja dada uma assistência, tendo em vista o trauma que ela sofre, ainda mais sem ter, realmente, como provar fisicamente. Casos como esse devem ter mais atenção”, salienta o conselheiro.

A notícia do arquivamento do Inquérito Policial, por parte da juíza da 3ᵃ Vara Criminal da Comarca de Sobral, Joyce Fontenelle, em dezembro do ano passado, ainda mexe emocionalmente com toda a família da adolescente que apontou o professor de matemática como seu assediador, dentro da própria escola, em horários de intervalo.

Segundo a decisão judicial que encerrou o caso na Justiça, “conforme preceitua o artigo 28 do Código de Processo Penal, considerando a ausência de elementos suficientes para fundamentar parecer, a qual pugnou de  modo acertado pelo arquivamento dos autos, em razão da ausência de justa causa”, diz a sentença, que deixou o pai, a mãe e a própria vítima, de 15 anos, em abalado estado emocional, mudando por completo a rotina da família. “Minha filha nunca repetiu de ano na escola. Era uma menina estudiosa, mas mudou o comportamento. Passou a chorar muito, e não querer ir mais para as aulas. Ela passava noites acordadas, o que me deixava muito angustiada, sem saber o que fazer”, relata a mãe.

Confira o vídeo com os pais, contando a história.

Colaborou: Luciano Cléver

Você pode gostar...

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Skip to content