Chanceler dá um drible da vaca na CPI da Covid

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O temperamento mercurial do ex-chanceler Ernesto Araújo era grande preocupação para o governo. Pelo menos, foi o que alardeou a imprensa. Mas a expectativa não se concretizou. Mesmo distante de uma apresentação dopada, como aconteceu com Delúbio Soares, Ernesto foi só gentileza. Respondia a todos sem perder o tom.

Forçou a barra ao afirmar que nada dissera contra o regime chinês. Não foram poucas as vezes em que se posicionou contra. Disse que o Brasil se alinhava com os Estados Unidos e países democráticos para barrar a ascensão do tecnototalitarismo de países com diferentes modelos de sociedade. Não disse o nome. E nem precisava.

No caso da desavença com o embaixador Yang Wanning, a imprensa afirma que ele se postou ao lado do deputado e filho Eduardo Bolsonaro. Ora, o exagero foi do embaixador que exigiu desculpas do governo por declarações do parlamentar, que imputara à China a responsabilidade pelo vírus e sua disseminação. Ernesto Araújo saiu em defesa do governo brasileiro. E chegou a formalizar ao governo chinês a destituição de seu embaixador no Brasil.

Em resumo, conseguiram extrair de Araújo a informação de que ele fez gestões com o governo indiano para o fornecimento de insumo da cloroquina, a pedido pessoal de Bolsonaro. Isto é, presidente preocupado com a saúde de seu povo. À época, como ainda hoje, estudos clínicos e observacionais apontavam a droga como capaz de debelar ou mitigar a carga viral. E estava em falta no Brasil. Com aumento da demanda, muitos pacientes acometidos por malária ou lupo, que fazem uso contínuo da HCQ, estavam privados do remédio.

O circo armado da CPI deixou mais claro seu objetivo menor: uso político para atacar adversários e blindar aliados, pois o grande escândalo se encontra nos rumorosos desvios de recursos federais nos governos municipais e estaduais. Até agora, nem se pensa em investigar. O suspeitíssimo relator Renan Calheiro, cujo filho é alvo de investigação policial, foge do tema o tempo todo.

Kátia Abreu, que mais parecia uma militante do Partido Comunista Chinês, dá ideia do tamanho do lobby no Senado

A participação da senadora Kátia Abreu (PP-TO) aclarou ainda mais a performance circense, tanto que se transformou em objeto de memes que tomaram conta das redes. Ela usou todo o seu tempo para demonstrar seu ressentimento. Não fez perguntas, nem uma sequer. Apenas discurso para ataque pessoal ao ex-ministro e ao atual governo. Sinófila a toda prova, corroborou a versão de lobista de empresa chinesa.

Pouco antes de se demitir do cargo, Ernesto Araújo citou uma conversa com Kátia Abreu, para quem ele se tornaria o rei do senado caso se posicionasse a favor da gigante chinesa Huawei que disputa o mercado brasileiro para implantação da tecnologia 5G. O lobby não deu certo, e ela se descabelou com a indiscrição do ex-chanceler. Deixou claro que usa o cargo de presidente da Comissão de Relações Exteriores para vendeta pessoal: jamais pautará a indicação de Araújo para qualquer embaixada.

Ernesto Araújo não foi Delúbio, que se entupiu de calmantes para não cair nas provocações, tampouco foi o Ernesto Araújo que se esperava. Cumpriu sua missão sem se comprometer.

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