A lombra do Alcolumbre
Depois de mais de 90 dias sabotando a sabatina de André Mendonça, indicado por Bolsonaro a ocupar uma cadeira no STF desde a aposentadoria de Marco Aurélio, em julho, Alcolumbre disse que não vai aceitar pressão para destravar a pauta.
Quem era Alcolumbre na fila do pão? Era um senadorzinho do Amapá, eleito com menos de 150 mil votos, alçado à presidência do Senado por não ter nome melhor. Recebeu o apoio do Planalto para fazer frente ao retrocesso que seria Renan Calheiros e ser uma alternativa a Simone Tebet. Era o menos opositor.
Tiraram-lhe o pirulito da reeleição, vedada dentro da mesma legislatura. Pediu apoio para seu sucessor, Rodrigo Pacheco, que lhe agraciou com a presidência da mais importante comissão do Senado, a CCJ. E agora, tal menino mimado, fincou o pé e quer porque quer indicar o ministro do STF. E já deu indício de que não vai pautar a sabatina, a não ser que tenha segurança que consiga derrotar Mendonça.
Bolsonaro veio a público cobrar uma posição; “Se quiser, vote contra, mas deixar de pautar a sabatina, constrangendo o candidato, é uma covardia”. E lembrou que durante os dois anos à frente do Senado, recebeu todo apoio do governo. Um ingrato. Como disse Talleyrand, a traição na política é uma questão de datas.
Três meses no molho e uma fila de processos à espera do próximo ocupante da vaga no STF, e Alcolumbre ainda acha pouco. Acusa recebimento de ameaça e interferência na sua autonomia na CCJ. E ainda alega suposta guerra religiosa por ele ser judeu, e o candidato ser terrivelmente evangélico.
Parece o contrário, a chantagem viria do próprio Alcolumbre, que desdenha até do apoio de Bolsonaro a seu irmão, que não teve sucesso em sua candidatura à prefeitura de Macapá nas últimas eleições. Não passa de um batoré, um homúnculo, um anão na política, por colocar seus interesses pessoais e paroquiais acima dos nacionais.
Assemelha-se a um vereador, um senador municipal, a demandar gestos, afagos e acenos da República diante de suas birras. Ele já ameaça prorrogar para 2023 a sabatina, principalmente quando o STF, por meio de Lewandosky , decidiu não se imiscuir nas questões do Senado. Se sentiu empoderado.
Certamente, ele passou dos limites e não tem grandeza para recuar de sua insanidade. Deve estar à procura de uma saída honrosa. Mas não está só, nessa empreitada para desagradar o Planalto. O presidente Rodrigo Pacheco é uma estátua majestosa, à espera do aliado. Nem mesmo se dignou apreciar solicitação de Espiridião Amin para levar o caso ao plenário.
Para Bolsonaro, nada é fácil. O sistema reage com rigor inaudito. Já foi proibido, por um ministro do STF, de nomear o diretor-geral da Polícia Federal. E agora, o Senado, por um de seus membros, tenta impedi-lo de nomear um ministro para o STF. Todos querem usurpar o o poder do presidente. Não querem deixar que ele governe.
E ainda se diz aliado. Com um amigo desse, ninguém precisa de adversário. No bruto jogo da política, falta integridade, e sobra perfídia.
Batoré na política, o senador tem um nome gigante. David Samuel Alcolumbre Tobelem. Dizem que o nome revela a personalidade. Alcolumbre. É muito álcool, é muita lombra.