Prefiro Ciro no Senado
O governador Camilo Santana passou por maus momentos durante a pandemia. Foi tanta a pressão que, pela primeira vez, se obrigou a tomar remédio para dormir, conforme confessou no início do mês. Pelo que vem por aí, vai ter que aumentar a dose.
Nadando de braçada em águas plácidas, sua candidatura ao Senado, que não encontrava óbices desde que o senador Tasso Jereissati desistiu da vida pública, corre o risco de soçobrar diante das intempéries do cenário nacional. O clima não está bom para Ciro Gomes e deve respingar nas candidaturas locais. Pode ter reset nas configurações.
Aumenta a pressão no PDT e também no PT (como sempre) para desvanecer o devaneio da candidatura de Ciro Gomes. Embora o presidente do partido considere a candidatura irreversível, nada é tão definitivo, muito menos na política. Sedentos por poder, como a mariposa por luz, políticos orbitam em torno das expectativas.
Com a entrada fulgurante de Sergio Moro na ribalta, apaga-se a luz de Ciro Gomes, que sai de cena. No último ato de sua atuação, exaspera-se contra tudo e contra todos, abandona a sala de estar e vai para o quarto. Nem mesmo o terceiro lugar a que foi relegado nas demais disputas já lhe pertence. Ser o nome da terceira via, cada vez mais inviável.
Ciro Gomes utilizou um elenco de táticas de marketing político para tentar ganhar musculatura eleitoral, mas continua esquálido e tende à inanição. Lançou livros, lives com celebridades, tentou a linguagem jovem com o Ciro Games. O partido lhe proporcionou um dos marketeiros de maior sucesso, que produziu uns filmetes, e até campanha antecipada – Prefiro Ciro. Nada disso surtiu efeito.
Muitos partidos aprenderam com o MDB. Até mais importante do que ter em sua sigla o presidente da República é fazer uma boa bancada no Congresso, o que lhe garante partilhar do poder, seja quem ganhar a disputa pela chefia do Executivo. É preferível Ciro no Senado à uma aventura da disputa presidencial.
É aí que mora o perigo para Camilo Santana, que vinha se equilibrando entre dois muros, sem querer se indispor com o PDT de seus padrinhos, nem com o PT, seu partido, diante da cada vez mais enfurecida investida de Ciro contra Lula. Por outro lado, a família Gomes estaria prestes a ver a decadência de sua estrela nacional com risco de mitigar o poder local se não fizer o próximo governador. Ficaria sem mel nem cabaça.
No novo desenho, Ciro Gomes disputaria o Senado, propiciando ao PDT aderir a Lula logo no primeiro turno. O PT seria contemplado com a candidatura majoritária no governo da pedetista Izolda Cela (governador ou vice), mantendo a aliança dos dois partidos, tanto local quanto nacional. Camilo, que deixaria o governo em abril, iria disputar uma cadeira de deputado federal, com a missão de fazer uma boa bancada e, quem sabe, assumir a presidência da Casa, caso Lula vença.
Nada disso estava nos planos do governador, que deve deixar o cargo no segundo trimestre do próximo ano, passando o governo para Cela. Que só teria quatro anos de mandato, já que seria reeleição. Isso facilita os acordos.
Digerir esse novo cenário vai dar dor de cabeça e tirar o sono de Camilo. Tendo média de três milhões de doses de vacina contra covid na geladeira, vai ter que ampliar o estoque de remédio para dormir em sua farmácia doméstica.
Enquanto isso, cresce entre os pedetistas um slogan ampliado da pré-campanha do presunçoso que se julga o melhor dos candidatos: Prefiro Ciro no Senado.