PF entra em campo para investigar jogadas de Ciro e Cid no Castelão
A Polícia Federal botou o seu time em campo na quarta-feira (15) para investigar supostas irregularidades na construção da Arena Castelão, com pagamento de propinas estimadas em mais de 11 milhões de reais. Muito cedo, os agentes visitaram endereços de Cid e Ciro Gomes, supostos beneficiários da mamata.
Além da visita incômoda, quando os agentes levaram computadores, tabletes e celulares deles, os irmãos Gomes foram alvos de quebra de sigilos bancário, fiscal e telemático. A operação, autorizada pelo juiz Danilo Dias, mobilizou 80 policiais em quatro estados.
O inquérito registra que “os empresários realizaram pagamentos sistemáticos de propinas, muitas vezes disfarçadas de doações eleitorais, ao então governador do Estado do Ceará, Cid Ferreira Gomes, e a seu irmão Ciro Ferreira Gomes”. Outro irmão, Lúcio Ferreira Gomes, seria o operador do esquema na Galvão Engenharia.
Ciro Gomes, que já prometeu receber a Polícia de Moro à bala, disparou sua metralhadora verbal contra todos. Tudo seria armação de Bolsonaro, que interfere na PF, em conluio com juiz “notório, mas não por seu saber jurídico”. Ciro deixou de citar outro pilar da investigação, o Ministério Público.
Com ensaiada indignação, e achando que o mundo gira ao redor de seu pescoço, Ciro disse que o objetivo da operação policial era torpedear sua candidatura, já moribunda, e lhe fechar a matraca. Trancado em seu quarto lugar, o mitômano se exaspera e jura inocência. “Não respeitaram a minha história”.
Mesmo se acreditarmos que sua trajetória é impoluta, o passado não é avalista do futuro. O irmão Cid Gomes, por exemplo, tinha o histórico de ser o equilibrado da família. Por sua atuação pretérita, jamais se imaginaria capaz de investir contra policiais, mulheres e crianças a bordo de uma retroescavadeira.
Tido como bom esgrimista das palavras, Ciro Gomes brandiu uma argumentação tão frágil quanto enganosa. Ao tentar desqualificar o juiz, chamou a atenção para o fato de o magistrado incluí-lo no inquérito como agente público. “Todos sabem que não tenho cargo público desde 2010”. Ele parece ter se esquecido de que foi secretário da Saúde, no governo de Cid Gomes, de 2013 a 2015.
Cid Gomes também investiu contra o juiz. Segundo o senador, disseram-lhe que Danilo Dias seria amigo de adversários seus. Cid omitiu o nome dos adversários e também de quem lhe passou a dica. E acrescentou que tudo seria para turbinar a candidatura do Capitão Wagner ao governo do Estado.
Num documento de 92 páginas, há o relato minucioso do modus operandi na extorsão de empresários para receber propinas. O Estado atrasa o dinheiro que é devido à empresa, criando-lhe um problema financeiro. Daí surge a figura do resolvedor. No presente caso, o irmão sênior Lúcio Gomes, que solicita doação eleitoral.
Lúcio Gomes, o atacante do time, exerce a mesma função tática de Antônio Balhmann, na temporada anterior, quando a extorsão era contra a JBS Couros – Cascavel. Lá, o atraso era do crédito de ICMS, no evento exportação. O atraso era sanado logo depois que a doação era efetivada, segundo a delação dos irmãos Batista.
Nos dois casos, também havia as empresas noteiras, que emitiam notas fiscais sem a devida execução do serviço ou entrega do produto. Numa, serviços da área de marketing, bancando campanha publicitárias nas eleições. Noutra, compra de cimento de uma empresa menor no Ceará.
Com a mesma ´atuação, o time dos Gomes dava um nó tático nos opositores, vencendo várias competições. Flagrado em irregularidades na feitura dos gols, as jogadas estão sob o escrutínio do VAR. Os Gomes esperneiam, dizendo que a PF joga para a torcida. Afirma que os resultados são legítimos e que seus adversários, em vez de reconhecer a derrota, apelam para o tapetão.
A plebe aguarda a atuação de todos os atores envolvidos na disputa – investigados, Justiça, Ministério Público e Polícia Federal – para saber se a grana influiu nos resultados. Seja como for, os que se julgavam intocáveis e que sempre chamaram os outros de ladrão, agora são chamados a prestar contas de seus próprios atos.
Comentário de Luciano Cléver para a rádio Paraíso FM
Veja matéria de Paulo Porfírio