Agronegócio: Brasil aposta na diplomacia para evitar falta de fertilizantes
Com o início da guerra na Ucrânia, o País deixou de receber fertilizantes da Rússia, que respondia por 22% das importações brasileiras
O Canadá foi a última parada da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, em busca de estabilidade no fornecimento de fertilizantes e, por consequência, certa tranquilidade a agricultores e consumidores. O risco da falta de insumos e a realidade dos altos custos de produção batem tanto nas porteiras das fazendas quanto na mesa da população, já tão impactada pela inflação. A maior preocupação, ou pelo menos a mais urgente, é que cerca de 85% dos adubos utilizados por aqui são importados, o que deixa o País vulnerável às oscilações do mercado internacional. Ou aos efeitos de uma guerra.
Grande parte desses fertilizantes vem da Rússia. Vinham. Após abrir fogo contra a Ucrânia, Vladimir Putin, o presidente russo, foi contra-atacado por sanções internacionais disparadas pelo ocidente, o que interrompeu as exportações de fertilizantes. O conflito armado ofuscou até o otimismo da visita que a ministra Tereza Cristina fez aos russos, em novembro do ano passado, para tratar desse assunto. A partir daí veio a investida na “diplomacia dos insumos”.
É neste ponto que entra outro importante grupo de fornecedores: os países árabes. De acordo com a Câmara de Comércio Árabe Brasileira (CCAB), o bloco compõe a maior fonte de fertilizantes importados pelo País, respondendo por 26% das negociações (em 2021, foram US$ 4,2 bilhões). O presidente da CCAB, Osmar Chohfi, e outros representantes de países árabes estiveram com Tereza Cristina na última quinta-feira (10) para estreitar os laços. O balanço entre desafios e oportunidades nessa relação tende a ser positivo, até porque, segundo Chohfi, o Brasil é muito importante para os países árabes quanto à segurança alimentar.
Pensando a médio e longo prazos, a aposta do Brasil é em si mesmo. No último dia 11, foi lançado o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), que promete ser um projeto de Estado, não de governo, e não tem a ambição da autossuficiência, o compromisso é de, até 2050, reduzir de 85% para 45% a dependência de importações – mesmo que a demanda venha a dobrar de tamanho. A iniciativa, que não é necessariamente uma novidade, será coordenada pelo recém-criado Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Confert).
Como ação imediata, no mês que vem terá início a Caravana Embrapa FertBrasil, uma jornada de pesquisadores e técnicos da Embrapa por 30 polos produtivos de nove macrorregiões agrícolas. Objetivo: abordar questões práticas que, somadas a outras ações do PNF, podem garantir maior eficiência na utilização dos fertilizantes e gerar uma economia de US$ 1 bilhão aos produtores rurais. O primeiro passo do maior projeto brasileiro em relação ao abastecimento de fertilizantes começa pela boa e velha extensão rural.