Forças desamadas invadem o TSE
Forças desamadas invadiram a mente de ministros do STF que fazem plantão no TSE, tal qual um vírus que afeta as cabeças coroadas. Tendo a paranoia como principal dos sintomas, o indivíduo inoculado é dado a fantasias e a enxergar fantasmas e moinhos de vento, que se movem pelo Planalto como numa grande estação eólica. Também desenvolvem um clichê do fetiche, a atração por fardados.
O primeiro caso de infecção registrado foi de Luis Roberto Barroso. No recôndito de suas crenças, desferiu ataques contra as Forças Armadas, que estariam sendo orientadas a desvirginar a credibilidade das urnas eletrônicas. Recebeu um terapêutico chega pra lá do Ministério da Defesa. Chamado de irresponsável e de ter proferido grave ofensa, calou-se em recuo.
O mais novo contaminado, Edson Fachin, apresentou comichão na língua. Sem que ninguém dissesse o contrário , afirmou que a última palavra na justiça eleitoral é da Justiça Eleitoral. Noves fora a platitude, a redundância tinha um sentido: mostrar virilidade, o herói machista de capa (preta) e espada a enfrentar os milicos que querem deflorar a donzela democracia.
Talvez induzido pelas manchetes de jornais e TVs a falar de viagras e picanhas, de inescapável conotação sexual, o presidente do TSE endureceu a fala: “Quem incita (excita?) a intervenção militar está praticando ato que afronta a Constituição e a democracia”. Mas as Forças Armadas não intervieram, estão lá a convite do próprio TSE para participar da Comissão de Transparência das Eleições.
Se o Fachin não está gostando do fungar no cangote, e o cheiro militar lhe é nauseabundo, a solução é simples. Basta revogar a portaria que criou a tal da CTE, de cuja iniciativa se mostram arrependidos. Afinal, era tudo circo. Teatral, como só ele sabe ser, Barroso foi o autor da comissão e do convite. As Forças Armadas, que não se prestariam ao papel de vaquinha de presépio, levaram a sério o convite e tomaram como missão.
Seus técnicos se debruçaram sobre a tecnologia das urnas, fizeram indagações e apresentaram sugestões. Pra quê!? Não sabendo que era circo, fugiram do script e incomodaram os togados, que se fecharam em copas. Se o sistema é inexpugnável, por que tanto receio? Fachin, feito a guarda ucraniana, disse outro dia temer já estar sob ataque de hacker russo.
Moraes, o ministro cabeça daquilo lá, fez ameaças para defender as urnas. Disse que, quando no comando do TSE, vai mandar prender quem duvidar ou difundir dúvidas sobre o processo eleitoral. Vai prender alguns, é certo, mas nem todos, pois mais da metade da população está com um pé atrás em relação às urnas.
Pesquisa recente do DataFolha cravou: 53% dos brasileiros tem algum tipo de desconfiança em relação às urnas eletrônicas. Mas tanto a Folha quanto o site do TSE manipularam os dados e manchetaram que 82% dos consultados confiam nas urnas. Mas veja só: entre os que confiam, eles incluíram os que “confiam um pouco”. Ora, quem confia um pouco, também desconfia. No mínimo, é a história do copo meio cheio ou meio vazio.
Segundo a consulta, 47% confiam muito no voto eletrônico, 35% confiam um pouco, e 18% não confiam de jeito nenhum. Basta levar para o campo pessoal. Quando você diz que confia um pouco numa pessoa significa que você tem desconfianças. E, se há desconfiança, seja nas relações pessoais, seja nas eleições, vale o que se exige da mulher de César: não basta ser honesta, precisa parecer honesta.
Não foram os militares, nem mesmo Bolsonaro, que levaram o descrédito às urnas eletrônicas, mas o próprio processo em si. Tanto que fortes democracias, com desenvolvimento tecnológico muito mais avançado que o nosso, ou não adotam ou deixaram de lado as urnas eletrônicas. Pesquisas também demonstram que os militares têm mais credibilidade que políticos e juízes.
É certo que o fetiche por fardados, estudado pela psicologia, é mais dirigido a jovens recrutas, e não a almirantes e generais, com excesso de estrelas e escassez de feromônios. Em nome da democracia, vamos sublimar os desejos inflamados por instintos. Ou se revogue a portaria ou tenhamos mais respeito pelas Forças Armadas, amadas ou não.