Questionário do DataFolha induz eleitor

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O DataFolha já foi a empresa de pesquisa das mais acreditadas no Brasil. Com a derrocada do Gallup e o definhamento do Ibope até sua extinção, o instituto do jornal paulista foi coletando credibilidade. Até o momento em que a Folha de S. Paulo tangenciou o jornalismo e assumiu o papel de partido de oposição, a partir de 2018.

Erros grosseiros nas eleições de 2018 ajudaram a enterrar o Ibope, que ressurgiu com outro nome, e fizeram com que o DataFolha claudicasse. A última pesquisa, que veio a público no dia 26 de maio, com ampla repercussão na mídia, é mais um sintoma da doença que acometeu a empresa de pesquisa. Não apenas por aloprar na diferença, cravando 21 pontos de dianteira de Lula sobre Bolsonaro. Tem coisa pior, como se verá a seguir.

Naquela mesma semana, outras cinco pesquisas foram divulgadas, nenhuma como o mesmo estardalhaço. Numa delas, a do RealTime Big Data, para a CNN, pela primeira vez, Bolsonaro aparece empatado com Lula e numericamente na frente: 28 x 26. Isso se deu na espontânea, quando se pergunta em quem votaria sem indicar nomes. Na estimulada, a diferença foi 8 pontos pró Lula: 40 x 32.

O jornal Metrópole divulgou no mesmo dia do DataFolha a pesquisa da Futura Inteligência para o banco Modalmais, com diferença de 5 pontos: 41 x 36. No dia 27, saiu a do XP/Ipesp, divulgada no Poder 360, com 11 pontos de diferença: 45 x 34. Já no dia 28, embora com resultado só para São Paulo, o Paraná Pesquisa trazia números bem diferentes. Por 39 a 35, Bolsonaro vence Lula, com empate técnico no extremo da margem de erro.

A mais recente, do BTG Pontual, divulgada no domingo 29, deu 14 de diferença: 46 x 32. Como se vê, há pesquisa para todos os gostos. São tantas que o UOL já lançou um agregador, que compila dados de 20 empresas de pesquisa. Por ele, o mês de maio registra 11 pontos de diferença entre os principais concorrentes, quase a metade do registrado pelo DataFolha.

O instituto da Folha realmente aloprou com tamanha diferença, quase o dobro da segunda maior diferença. São metodologias diferentes, difícil de mensurar. No entanto, se as pesquisas são científicas, mesmo com métodos diferentes, deveriam chegar a resultados aproximados. Tamanha disparidade é de deixar com a pulga atrás da orelha.

Mas o mais grave mesmo é o direcionamento, como se verá agora. A pesquisa, para auscultar a real situação, deve fugir das adjetivações. Seu questionário deve ser o mais objetivo, simples e claro possível, tendo em vista a diversidade de públicos que se pretende alcançar. Deu-se aqui o contrário.

No questionário da pesquisa registrada no TSE sob o número 01566/2022, a pergunta 14 traz um absurdo, acusando um dos candidatos de fazer ataques à Justiça e ameaças às eleições. O consultado é induzido a não votar num cabra assim, certo? Eis, literalmente, com destaque nosso, o enunciado:

“Em suas declarações, o presidente Jair Bolsonaro costuma fazer ATAQUES a ministros do STF e TSE e AMEAÇAS sobre as eleições”. E pergunta:
1 Os ATAQUES e AMEAÇAS devem ser levados a sério pelas instituições do país ou
2 As declarações de Bolsonaro não terão consequências?

Pergunta 14 do questionário de entrevistas do DataFolha

Isso tem jeito de crime eleitoral. O instituto não pergunta se a pessoa considera ataque as críticas de Bolsonaro aos ministros nem se acha que são ameaças os reclames por mais segurança no sistema eleitoral. É a opinião do DataFolha, induzindo o eleitor a crer que são, de fato, ataques e ameaças.

Nas matérias da Folha, até o indulto/graça concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira é um ataque ao STF. A opinião dos jornalistas contaminou os técnicos do DataFolha, que fizeram clara indução no questionário. A resposta a esse quesito levou a Folha a cometer a seguinte manchete neste domingo 29: Para 56%, falas golpistas devem ser levadas a sério.

Outra manipulação, embora em menor grau, diz respeito à confiança da sociedade em relação às urnas eletrônicas. A Folha divulgou que 73% da população confia nas urnas. Meia verdade. Apenas 42% confiam nas urnas. Eles somaram a esse grupo aqueles que confiam um pouco. Ora, confiar um pouco é também desconfiar. Manchete mais precisa: 55% não confiam plenamente nas urnas.

Há um livro, cujo título vem a calhar: How to lie with statistics

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