Ceará tem aumento de pedidos de alteração do nome no registro civil de pessoas transexuais
Cerca de 512 pedidos têm sido feitos, desde 2018, quando um julgamento do Supremo Tribunal Federal e uma determinação do Conselho Nacional de Justiça derrubaram a obrigatoriedade desse tipo de caso ser decidido por um juiz.
Divulgados pela Defensoria Pública do Estado, nesta quarta-feira (22), os dados apontam que em 2017, o Estado teve 17 pedidos, quando ainda havia necessidade de ação judicial. No ano seguinte, o número subiu para 75 — um aumento de 341%. Na Defensoria, os pedidos são acompanhados pelo Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC). Este ano, foram 53 solicitações até o dia 15 de junho.
A decisão do STF determinou que qualquer pessoa pode solicitar a retificação indo, por conta própria, ao cartório de registro civil no qual consta o ato jurídico do seu nascimento. Basta ter mais de 18 anos e pagar as taxas para a emissão do novo documento. Só há duas exceções: indivíduos ‘não-binários’ — que não se identificam como homem ou mulher — e menores de idade. Nestas situações, até hoje, apenas uma sentença judicial autoriza a mudança.
“Pessoas trans e travestis sofrem diversas violações de direitos quando os documentos não condizem com o nome e o gênero com os quais elas se identificam. Alterar o registro civil é o primeiro passo para mudarem também o RG, a carteira de trabalho, o passaporte. Só assim elas poderão exercer alguma cidadania”, esclarece a supervisora do NDAHC e defensora pública, Mariana Lobo.
A Defensoria realiza, no próximo dia 30 de junho, o Transforma, primeiro mutirão da instituição para retificação de nome e gênero voltado especificamente para as populações trans e travesti cearenses. “Trata-se, portanto, de um trabalho intensivo de causas já rotineiramente acolhidas pela DPCE, especialmente pelo NDHAC. A força-tarefa tem por motivo o Dia do Orgulho LGBT, celebrado mundialmente em 28/6”, explica a Defensoria.
Em apenas duas semanas de inscrições, o Transforma registrou 368 pessoas interessadas na alteração do documento. O número equivale a 70% da demanda do Núcleo de Direitos Humanos dos últimos cinco anos e meio. E, comprova, ainda, o quanto há de demanda reprimida no Ceará no que se refere à correção dos documentos de travestis, homens trans e mulheres trans.