Tentar retirar do ouvido um corpo estranho ou inseto é perigoso, alertam os médicos
Apesar da tentativa caseira de resolver o problema, o melhor, mesmo, é procurar ajuda de um especialista.
Manoel de Nobrega, otorrinolaringologista e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), afirma que corpos estranhos animados, geralmente insetos, produzem ruídos e grande desconforto aos pacientes com seus movimentos, por isso pode haver zumbido.
Assim, “é necessário que sejam imobilizados e mortos com óleo ou éter, o que evita maiores complicações locais. Já os corpos estranhos inanimados, como sementes, algodão ou borracha podem absorver água dentro da orelha, podendo inchar e tapá-la, o que prejudica a audição, além de facilitar o desenvolvimento de infecções. E o procedimento de retirada deve ser feito por um especialista”, ensina o médico.
Nobrega afirma, ainda, que a idade com maior índice de complicações costuma ser de até 6 anos, tendo uma leve predominância no gênero masculino. A anestesia geral ou sedação pode ser utilizada quando a criança não consegue permanecer imóvel. Os objetos mais comumente removidos incluem papel ou lenço de papel, grãos de pipoca ou feijão, peças de brinquedos, pedaços de alimentos, pequenas pedras, entre outros; e respondem por pouco mais da metade dos casos.
Certos tipos de objetos, como aquelas baterias em formato de círculo do tipo botão, requerem remoção urgente devido ao risco de lesão da pele da orelha e, de até mesmo, intoxicação sistêmica, que é quando o organismo absorve algo tóxico, por causa do conteúdo que pode vazar para dentro do ouvido.
Renato Roithmann, presidente da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervicofacial), alerta que os sinais não são evidentes em casos de crianças, pois elas não costumam contar o que aconteceu. “No entanto, pode haver dor e até diminuição da audição. Se algum inseto entra no ouvido, existe muito incômodo provocado pelo batimento das asas ou do movimento, que gera um barulho na região”, explica.
Thiago Bezerra, médico especialista em otorrinolaringologista, membro da ABORL-CCF e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), aponta que, no curto prazo, o risco é de provocar uma otite externa, que é uma inflamação do conduto auditivo externo, aquela parte do “corredor dentro da orelha”. O médico explica que, “o corpo estranho afeta na descamação e nos processos de renovação da pele e da parte externa. Essa alteração no processo de descamação, junto com a umidade, contribuem para uma proliferação bacteriana”, alerta.
Em relação aos insetos, os problemas são outros. Além de resultar em inflamação, da mesma forma como os corpos inanimados, pode ocorrer de haver uma infecção pela picada, contaminação ou envenenamento. Um carrapato, por exemplo, traz o risco de infecção devido a sua bactéria, assim como outros insetos mais agressivos. Eles podem causar um machucado ou perfuração na membrana timpânica, parte responsável pela vibração e condução do som.
“Todo o procedimento de remoção deve ser feito apenas pelo médico otorrinolaringologista, que tem a experiência e todo o material específico para os diferentes problemas”, diz o doutor Thiago Bezerra.
Ainda, sobre a desobstrução do ouvido, “as tentativas de remoção caseira com lavagem e uso de objetos caseiros, como cotonete ou ponta de chaves pioram a situação, provocando sinais e sintomas inflamatórios mais graves, e isso gera uma difícil manipulação local que obriga o especialista a recorrer à anestesia geral”, alerta Bezerra. No caso dos insetos, o médico presidente da ABORL-CCF esclarece que o importante é fazer com que o inseto pare de se mexer. Para isto, é indicado pingar 3 ou 4 gotas de álcool na orelha.
“Mas só isso não basta. É indispensável ir ao médico para um exame, que fará a remoção com instrumentos próprios para cada caso, fazer sucção ou mesmo lavagem com seringas especiais com água”, indica.