Pele de tilápia ajuda na recuperação da autoestima de mulheres no Ceará

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Pacientes com síndrome rara passam por reconstrução do canal vaginal, por meio da pele do peixe.

Cerca de 25 mulheres no Brasil, portadoras da síndrome rara, Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser, foram submetidas a uma cirurgia para reconstrução do canal vaginal, numa iniciativa experimental. Grande parte das pacientes passou pelo procedimento na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, hospital púbico que integra o Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Resultados de procedimento com pele de tilápia vai além da cirurgia (Foto: divulgação).

A técnica brasileira, pioneira no mundo, passou a ser utilizada há cinco anos em Fortaleza, gratuitamente, pelo SUS, com pacientes com a rara síndrome. Geralmente, a mulher com essa condição nasce sem os dois terços superiores da vagina, segundo Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra dos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês.

Em consequência disso, essas mulheres não podem engravidar, e têm restrições nas relações sexuais. “Por alguma razão desconhecida, pode ocorrer, ainda, formação rudimentar do útero. Ele é muito pequeno, às vezes, até sem cavidade, ou pode não existir”, afirma o médico.

Segundo Pupo, o diagnóstico costuma chegar, entre os 14 e os 16 anos, com um incomum atraso na menstruação. Em outros casos, a síndrome é detectada quando a mulher relata ao médico ter dificuldades na hora da relação sexual. Foi o caso da operadora de fábrica, Maria Jucilene Marinho (27), a primeira mulher no mundo a se submeter ao procedimento de reconstrução vaginal com a pele de tilápia, em abril de 2017.

Jucilene achou estranho não ter menstruado ao chegar aos 15 anos. Foi, então, que ela decidiu ir ao ginecologista, em Lavras da Mangabeira, no interior do Ceará. Ela relata que sentiu um certo despreparo do profissional que a atendeu. “O médico me disse que eu não menstruava porque estava grávida. Avisei que era virgem e, mesmo assim, ele insistiu na gravidez. Só após o exame do toque, ele percebeu que eu falava a verdade”, lamenta.

“Em um exame de ultrassom, foi percebido que eu não tinha útero nem ovários, segue Jucilene. “Passei três anos entre consultas e exames, até por uma cirurgia desnecessária no hímen, antes de, finalmente, receber o diagnóstico de Rokitansky”, explica.

Leonardo Bezerra, professor-adjunto de ginecologia da UFC, conta que a cirurgia com a pele de tilápia dura 30 minutos. “Fazemos o canal vaginal, recobrindo-o com a pele do peixe envolta em um molde de acrílico. É minimamente invasivo”, relata, concluindo. “Posteriormente, as células dos tecidos da paciente e fatores de crescimento são liberados pela pele da tilápia e, assim, surge um novo tecido com células iguais à de uma vagina real”, reforça.

Bezerra diz que se inspirou na técnica usada para queimaduras, criada na mesma universidade e já usada com sucesso. “Demonstrou ter cicatrização mais rápida, limpa e sem processo inflamatório”, comemora o médico. A cirurgia do canal vaginal ainda está em fase de pesquisa, e só é realizada em pacientes que participam de estudo. O encaminhamento pode ser feito por qualquer unidade de saúde do País. O ministério da Saúde informa que, por ser experimental, o procedimento ainda não está incorporado à relação oficial de cirurgias.

Zenilda Bruno, médica ginecologista chefe da Divisão Médica da Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, que faz parte da equipe pioneira no procedimento, aponta que a grande vantagem da cirurgia com o peixe é que, “além de ser mais rápida, ela não é invasiva, não tem cheiro de peixe, e tem pós- operatório indolor. Outro grande benefício é a falta de cicatriz; isso é muito importante para a autoestima da mulher”, reforça.

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