Carlos Wizard, secretário da Saúde, defende cloroquina para prevenção da Covid 19

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Além disso, o mega empresário dono de uma franquia também quer que pacientes com sintomas leves busquem atendimento médico.

O empresário Carlos Wizard, escolhido para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, defende que todas as pessoas com qualquer sintoma de Covid-19, mesmo que leve, procurem atendimento médico. Ele diz que, além do próprio paciente, os familiares e demais contatos devem ser tratados com cloroquina e hidroxicloroquina como forma de prevenir o contágio, cabendo ao médico prescrever de acordo com o caso concreto.

A nomeação do futuro secretário é esperada para ocorrer até sexta-feira. Ele foi convidado por Eduardo Pazuello, que foi oficializado como ministro interino da pasta da Saúde ontem. Wizard trabalhou com Pazuello na Operação Acolhida, em Roraima, em uma ação social de apoio a venezuelanos na fronteira.

O empresário, que é dono de franquias e controla operações de grandes marcas no Brasil, rebateu estudos que apontaram ineficácia da cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da doença, afirmando que revistas científicas internacionais, citando a Lancet, avisaram que revisarão tais publicações. E diz que “estudos científicos internacionais comprovam a eficácia do uso precoce desas substâncias”, sem mencionar a quais pesquisas se refere.

Pazuello já havia emitido orientações, sobre utilização precoce da cloroquina e hidroxicloroquina, mas sem abranger o uso profilático como defendido por Wizard. Pazuello assinou a medida sob pressão do presidente Jair Bolsonaro, após o ex-ministro Nelson Teich, oncologista, pedir demissão por não concordar em endossar a medida.

Wizard critica o protocolo adotado ainda na época do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta à frente do Ministério da Saúde, de recomendar a ida ao hospital apenas quando a pessoa sentir sintomas fortes, como dificuldade para respirar, e afirma que essa diretriz mudou. Segundo ele, muitas pessoas perderam a vida porque chegavam em situação muito grave ao hospital por terem esperado dias ou semanas para procurar atendimento.

“Hoje, a nossa recomendação como Ministério da Saúde, e especificamente da nossa secretaria técnica da Ciência, é justamente o contrário: a pessoa começou a ter os primeiros sintomas, vai para posto de atendimento, UPA, pronto socorro, hospital, plano médico. Comprovado o Covid, entra imediatamente em procedimento, onde ele passa a ter o tratamento precoce. E todos os seus familiares, (o tratamento) profilático. Ou seja, o sujeito é casado, tem mulher, filhos, aquele grupo familiar já passa a ter tratamento antecipado” disse Wizard.

Para rebater conclusões de estudos que apontaram efeitos colaterais perigosos no uso de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19, como arritmia cardíaca, Wizard fala em “fantasia” criada em torno dos medicamentos: “Criou-se uma fantasia em torno de cloroquina e hidroxicloroquina, quando na verdade esses medicamentos existem há 50, 60, 70 anos. Até hoje ninguém questionou, criou resistência ou se opôs a esse tipo de tratamento. Tanto é que pacientes com lúpus usam continuamente a hidroxicloroquina por 10, 20, 40 anos. Se não fosse pelo medicamento, a pessoa já teria ido a óbito” e acrescentou: “Estamos falando de um remédio que esta há 70 anos no mercado. Se a pessoa tomar esse remédio por cinco dias, vai ter um dano? Não, vai ter um salvamento de vida. O que é triste é que se transformou mais em uma questão ideológica do que humanitária. Me arrisco a dizer que se amanhã o presidente do Brasil sair na televisão dizendo que quem tomar um copo de Coca-Cola por dia estará imunizado, metade da população vai deixar de tomar Coca-Cola.”

O empresário desconversou ao ser questionado se estava se referindo ao presidente Jair Bolsonaro quando declarou, em vídeo publicado nas redes sociais em março, que o brasileiro estava sendo enganado por quem dizia que a Covid-19 era uma gripe qualquer. Bolsonaro vem minimizando o impacto e gravidade da doença, à qual já chamou de “gripezinha”, por ser contrário à suspensão de atividades econômicas. Wizard disse que no início da pandemia havia essa ideia de que não se tratava de algo tão grave.

“Ele (o presidente) é uma influência do seu meio. No meio dizia-se que era uma gripe” afirmou, sem dizer claramente se estava se referindo ao presidente.

O empresário afirmou ainda que fazer uma abertura geral da economia seria “uma insensatez” e defendeu a volta gradual das atividades, de acordo com a realidade de cada local e desde que medidas de prevenção sejam tomadas. Entre as ações apontadas, estão postos de triagem nas indústrias, medição de temperatura e disponibilização de transporte aos funcionários.

“Algumas cidades estão abrindo shoppings das 14h às 19h. É uma incoerência. Vão criar uma aglomeração de pessoas dentro de um horário limitado. É mais sensato mais abrir em horário normal e fechar em horário normal. Não é simples (a reabertura econômica). Tem que ser pensado com medidas inteligentes”, disse o empresário.

A despeito de os dois titulares que passaram pela secretaria somente no período da pandemia serem médicos, Wizard afirmou que não precisa necessariamente da formação em saúde para ocupar o cargo. Ele disse que o próprio ministro Pazuello, que é general do Exército, e o dirigente atual da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom, não têm diploma em medicina. Adhanom é biólogo, com mestrado e doutorado na área de saúde, e pesquisador reconhecido internacionalmente na área de malária.

“Uma competência é entrar numa sala de cirurgia, numa UTI, fazer um procedimento cirúrgico. Mas agora, administrar uma organização mundial, um ministério nacional, uma secretaria, não necessariamente precisa ser profissional da área médica. Desde que você tenha profissionais competentes e qualificados para atender as demandas”.

Ele negou ter pretensões políticas ou interesses comerciais com a ida para o Ministério da Saúde e afirmou que, em vez de ser apontado como empresário bilionário, é um dos maiores pagadores de imposto do país que quer ajudar no combate à Covid-19 como uma doação de seu tempo e de sua experiência gerencial.

“Estou doando meu tempo, minha capacidade intelectual, de administração, de interlocução, para fazer essas articulações que são tão importantes na gestão pública.”

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