Ciro admite derrota no Ceará
Bateu o desespero no quintal do coronel. Ciro Gomes fez a maior lambança na sucessão estadual, minimizou a liderança do irmão, descumpriu compromissos com os correligionários, rompeu com aliados, impôs a candidatura de Roberto Cláudio, e agora diz que está na iminência de perder a eleição para o “capitão amotinado da PM do Ceará”. Petulante como ninguém, Ciro Gomes admitiu a derrota em entrevista ao vivo para a Globo News, nesta quarta-feira (27). Como adolescente que não assume seus atos, culpou o ex-presidiário: “Esse é o nível de irresponsabilidade do senhor Luiz Inácio Lula da Silva”.
O ressentimento de Ciro em relação a Lula é antiga e explica as idas e vindas do relacionamento, ora em defesa ardorosa do petista, ora o qualificando como o maior corrupto da história. Como biruta de aeroporto, o humor cirista aponta para onde sopram os ventos das circunstâncias. Até outro dia, Camilo era a nova aliança da política cearense. Poucos dias depois, era o Judas que se vendeu por um “punhado de nada, um carguinho de ministro”.
Ciro usou uma parábola nada popular para explicar o baile que está levando nessa campanha, até mesmo no Ceará. Segundo ele, a orquestra estava pronta para iniciar o espetáculo, músicos e maestro prontos para seguir a partitura, eis que entra um elefante no palco. Quem? “São Lula, primeiro e único, já eleito”. Pronto, não foi ele o causador de toda a briga, a cizânia entre irmãos fora espalhada por Lula.
É verdade que Lula foi o algoz de Ciro em todas as tentativas do cearense de Pindamonhangaba chegar ao Planalto. Em todas as vezes, houve uma rasteira. A primeira foi quando Ciro foi convencido a não concorrer a Presidência. “Você tem tempo”, disse Lula, “venha ser governador de São Paulo”. Ciro transferiu o título, mesmo contrariando o acertado conselho da mãe. Não concorreu a nada, ficando sem mel nem cabaça.
Noutra vez, Ciro já contava com o PSB e o PCdoB em sua coligação. Lula fez Marília Arraes desistir de concorrer em Pernambuco, favorecendo o PSB, que, em contrapartida, desistiu de Ciro. E o PCdoB, que seria “o norte moral” da coligação de Ciro, também o abandonou. Ciro perdeu o norte e a moral. E acabou tropeçando na própria língua, deferindo impropérios contra negros e a sua linda esposa, cuja única função seria dormir com ele.
Quando Lula preso, Ciro imaginou que chegara a sua chance. Lula foi de novo carrasco. Calculou que seria melhor perder com Bolsonaro do que ganhar com Ciro. E manteve sua impensável candidatura até o ´último momento. Haddad poderia ser o vice de Ciro, no sonho do cearense. Como não deu, acenou com um apoio crítico no segundo turno e foi afogar suas mágoas no vinho francês nas noites parisienses.
Mesmo com tantos contratempos no cenário nacional, Ciro jamais perdeu prestígio no Ceará. Até então não conhecera derrota em casa. Os cearenses o colocaram à frente de FHC e Lula, em 1998, de Lula e José Serra, em 2002, e de Haddad e Bolsonaro, em 2018. Nesta campanha, amarga o terceiro lugar. Nem mesmo em Sobral, o desempenho é satisfatório. A derrota nacional subiu-lhe a cabeça, e ele jogou a tolha, sem crer na vitória de seu pupilo RC.