Censo: uma a cada 10 cidades tem mais eleitores que moradores

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Um exemplo é Japurá (AM), no extremo oeste do País, que tem população projetada pelo IBGE de 1.755 moradores, mas tem 5.149 eleitores.

Eleitores de 572 municípios brasileiros devem ir às urnas em outubro, em cidades com mais votantes do que habitantes. O dados da população projetada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no ano passado, juntamente com os números mais recentes de eleitores, segundo o TSE, apontam que uma, a cada dez cidades do Brasil tem mais eleitores do que moradores.

O atraso de 10 anos na pesquisa pode causar prejuízos na criação de políticas públicas mais diretas (Foto: divulgação).

Há casos em que a quantidade de eleitores supera, em até quase quatro vezes, a população, como em Severiano Melo (RN), a líder em disparidade em termos proporcionais: o município tem 1.743 habitantes e 6.669 eleitores, o que dá 282% mais votantes do que moradores.

Casos como o da cidade potiguar, já ocorreram em outros anos e, segundo especialistas, são reflexo da falta de um Censo demográfico. Por isso, a defasagem na contagem da população cria distorções em um dado que norteia políticas públicas e o envio de recursos federais e estaduais às prefeituras. Os dados do IBGE são publicados, anualmente, em Diário Oficial, e servem como base para a transferência dos recursos dos fundos de participação de estados e municípios, para uso, como no programa Auxílio Brasil e em políticas de educação e saúde.

Com dois anos de atraso, o Censo 2022 começou a fazer entrevistas, somente, neste mês, e vai até outubro. A meta é visitar os 75 milhões de lares brasileiros. Os resultados preliminares da contagem devem sair até o final deste ano, mas números mais detalhados serão divulgados a partir de 2023.

Entre os anos sem um Censo, o IBGE faz projeções anuais, mas elas podem ser falhas, especialmente se for longo o período sem um recenseamento. Segundo a Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP), “as estimativas têm como método as tendências observadas de mortalidade, fecundidade e migração em nível nacional e regional. Entretanto, podem não captar, por exemplo, migrações fora da curva ou as mortes excessivas causadas pela pandemia de covid”, revelam os pesquisadores.

Se não bastasse o intervalo de dez em dez anos ser longo, o Censo foi adiado, várias vezes, desde 2020 (quando deveria ter sido feito) por alegação de falta de recursos, gerando ainda mais prejuízos às políticas públicas e repasses aos municípios que necessitam de dados atualizados. Roberto do Carmo, presidente da ABEP, explica que, apesar de as projeções serem a melhor forma para se aproximar da realidade, só o Censo traz informações concretas sobre volume e distribuição da população. “Elas são fundamentais para fazer políticas públicas. A questão da quantidade é importante, mas a distribuição espacial e as características das pessoas são importantes, também”, diz.

Carmo explica que, no caso de cidades com mais eleitores do que habitantes, a demora no Censo causa mais dificuldades para se perceber migratórios, por exemplo. “Se você demora para corrigir essa curva [com um Censo], vai trabalhando com uma tendência de mais de 20 anos atrás”, cita. Outro ponto a ser considerado, é de eleitores que moram em um lugar, mas têm o domicílio eleitoral em outro. “Às vezes a pessoa se muda, mas não transfere isso.” Ele afirma, ainda que, na ausência de boas estimativas, os bancos de dados alternativos, como os do TSE, ajudam a entender o processo, mas não podem servir como base geral.

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