Um empate com gosto de vitória

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Bolsonaro foi jogar no campo do adversário e arrancou o empate, num jogo com juiz parcial e VAR viciado, como se diz no mundo da bola. Ninguém fez gol. Nem o casal de apresentadores globais conseguiu tratorar o presidente, nem Bolsonaro conseguiu mitar em cima de Bonner e Renata. As torcidas esperavam mais. De um lado, imaginava-se que o candidato fosse massacrado pela dupla de jornalistas. De outro, sonhavam que poderia vir dali um aluvião de votos dos indecisos seduzidos pela performance do mito. Nem uma coisa nem outra. Não houve grandes lances, uma frustração para público tão grande, a maior audiência da Globo do ano, e não apenas do Jornal Nacional.

Bolsonaro jogou na retranca. Quando tentava descer pelas pontas, tentando encaixar um contra-ataque, o árbitro parava o jogo, mudando de assunto. Se a fluência de Jair já não é essas coisas, seu pensamento era constantemente interrompido, numa técnica que mais se assemelha a um interrogatório policial do que a de uma entrevista jornalística. Não havia muito interesse na resposta, pouco importava o conteúdo. Na troca de afetos, do pescoço para baixo é canela.

Alguns lances, que não culminaram em gol, chegaram a levantar a torcida. Com ar de senhores da verdade, sobre a qual não se podia discutir, o casal pisou na bola em algumas ocasiões. Renatinha esbugalhava os olhos para escandir uma frase e esconder uma verdade: “fique em casa, se puder”. Não foi gol, mas balançou as redes sociais com uma profusão de memes e comentários pouco airosos.

No festival de esgares e caretas, risinhos irônicos e caras e bocas, a apresentadora fechou o cenho para perguntar se Bolsonaro não se arrependia de ter imitado pessoas com falta de ar na pandemia. O presidente negou e apelou para o VAR: “põe o vídeo”. A prova veio nas redes sociais. De fato, Bolsonaro fazia gesto de quem estava sem ar, mas para debochar do protocolo Mandeta, segundo o qual a pessoa deveria procurar o médico quando ficasse sem ar.

Renata Vasconcelos ainda tentou o jogo sujo do jacaré, quando Bolsonaro usou uma figura de linguagem para criticar a postura da Pfizer que não se responsabilizava pelos efeitos adversos de sua vacina. Vasconcelos, querendo jogar para a torcida, insistia na literalidade da frase. Era literatura, explicou Bolsonaro. Chama-se hipérbole. Mesmo que a vacina fizesse de você uma Cuca do Sítio do Pica Pau Amarelo, a farmacêutica não se responsabilizaria pela transformação.

Quando Bonner falou de corrupção no MEC, Bolsonaro perguntou pelo duto do dinheiro. Realmente, nas denúncias de corrupção, não se tem prova de recebimento do dinheiro. Só indício de cobrança de propina, sem que ela tenha sido paga. Seja pelo ouro dos pastores, seja pelo dólar a cada dose de vacina (não comprada). Ao fim e ao cabo, a agressividade ficou por conta dos apresentadores quando se esperava do lado do presidente. Mas também não dá para posar de vítima. Zero a zero. Um empate com gosto de vitória.

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