App brasileiro faz doação de medicamentos
Antes, o material teria como destino a incineração.
No Brasil, fabricantes de medicamentos só conseguem vender remédios aos distribuidores, quando há, pelo menos, seis meses até o vencimento — algumas redes de farmácias exigem um prazo de um ano para comprar. Assim, muitos produtos em perfeitas condições, que ainda podem ser usados por um tempo considerável, acabam sendo descartados.
Para contornar este cenário, um novo app, chamado PegMed, organiza a doação de produtos com prazo de validade reduzido, que seriam destruídos, para instituições sociais. “É como se fosse um Tinder, em que doador e receptor precisam dar ‘match’ de acordo com suas necessidades”, informam os criadores.
“A ideia surgiu de uma necessidade de prover acesso a medicamentos para um maior número de pessoas que necessitam. Mas haviam várias barreiras para que isso acontecesse”, diz Antônio Lacerda, vice-presidente sênior de químicos da Basf América do Sul, empresa que lançou o aplicativo.
“Além de não existir um sistema ágil, que cumpra com as conformidades legais e dê transparência do percurso, até a entidade, temos a alta carga tributária incidente sobre as doações de medicamentos no Brasil. Assim, a incineração acabava sendo o destino mais fácil, legal e menos custoso para as indústrias farmacêuticas”, explica Fernanda Furlan, ‘head’ de inovação de nutrição e saúde da Basf América do Sul.
Ainda, segundo Fernanda, “há um problema duplo: a produção destes medicamentos já consume recursos financeiros, água, energia e outros insumos — e acabam literalmente virando fumaça, aumentando ainda mais a emissão de poluentes e os gastos”, lamenta.
De acordo com a Fundação Access to Medicine, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo não possuem acesso a medicamentos essenciais. Por outro lado, toneladas de remédios são incineradas todos os anos. O app foi desenvolvido em parceria com as startups brasileiras PegMed e Loomi. Ele conecta indústrias farmacêuticas a instituições, com a agilidade e confiabilidade necessárias, monitorando todo o processo até o consumo do produto — e seu eventual descarte, caso não seja usado até o vencimento.
O projeto, 100% brasileiro, deve ser levado a outros países. “Na América do Sul, estamos estudando implantar na Colômbia, no Chile e no Peru. A Turquia e a equipe do continente africano também já mostraram interesse. Queremos levar até outros locais subdesenvolvidos, como o sul da Ásia”, comemora a executiva Fernanda Furlan.