Bolsonaro vence o DataFolha e vai ao segundo turno
O maior derrotado dessas eleições não foi Lula, que imaginava liquidar a fatura no primeiro turno e está exaurido para a prorrogação. Foram as pesquisas, especialmente as do DataFolha e Ipec. Este último respondia pelo nome de Ibope, que morreu de inanição e foi ressurreto para atuar neste pleito. Os dois, até sábado, véspera das eleições, cravavam nada menos de 16 pontos de diferença entre Lula e Bolsonaro, chegando a insinuar a vitória antecipada do petista.
Mas a discrepância não foi apenas entre os concorrentes à Presidência da República. Cargos de senador e governador passaram por semelhante vexame, sendo o mais relevante na disputa paulista, quando se inverteu a posição entre os contendores. Tarcísio, que estava em segundo, desbancou Haddad, levando a decisão para o segundo turno. E o astronauta passou como um foguete para conquistar a cadeira do Senado, que não estava no radar de nenhuma pesquisa.
Ibaneis, no Distrito Federal, e Castro, no Rio de Janeiro, conquistaram a reeleição no primeiro turno, contra todos os prognósticos. No Rio Grande do Sul, outra virada à paulista. Onix ultrapassa o governador Leite, que quis ser presidenciável, e o vice-presidente Hamilton Mourão será senador a partir do ano que vem. Por coincidência ou não, a maior parte dos “erros” grotescos prejudicou bolsonaristas.
No Espírito Santo, Casa Grande (PSB) foi dado como eleito pelo Ipec, que o apontou com 59% dos votos, mas foram computados apenas 46%. Seu oponente, Carlos Manato (PL), subiu de 25% na pesquisa para 38% nas urnas. E o bolsonarista Magno Malta derrotou a atual senadora Rose de Freitas, aliada do governador e tida como eleita.
Nada superou o resultado de Rondônia, onde Jaime Bagatolli foi apresentado pelo Ipec em quarto lugar, detentor de apenas 8% dos votos válidos, e venceu a corrida com 38% dos votos.
A Folha de S. Paulo, que usou a exaustão os números do DataFolha, com várias pautas em desdobramento das consultas, além de citar outros institutos como o Ipec, não deu uma linha sobre tamanho erro. O Globo, que contratou o Ipec, ainda fez uma matéria. Só Estadão foi ao ponto: “Pesquisas falham ao não captar intenção de voto bolsonarista e erram resultados”.
A apuração, além de fornecer combustível para queimar as pesquisas, realimenta o discurso das desconfiança nas urnas eletrônicas. Dos 14 governadores eleitos, oito são do Bolsonaro; quatro, do Lula. Dos 27 senadores, 14 são aliados de Bolsonaro, oito são lulistas. Além disso, o PL elegeu uma centena de deputados, alcançando a maior bancada da Câmara em 24 anos. E, mesmo assim, Bolsonaro apareceu em segundo, embora com apenas 5 pontos percentuais de diferença.
Além do sprint na reta final, Bolsonaro tem a economia a seu favor no segundo turno. É mais um mês de Auxílio Brasil a ser creditado. É também quando se dará início do crédito consignado, cerca de 20 milhões de famílias poderão levantar empréstimo em torno de dois mil reais. Além dos eleitos, que pedirão voto sem a pressão de suas candidaturas. Não é pouca coisa.