Produtos de beleza e sua relação com a saúde

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Médicos chamam a atenção para o uso de produtos, aparentemente inofensivos, mas que têm uma forte interferência na saúde.

“Precisamos ter um consumo bem mais consciente de produtos de higiene e beleza e, eu diria, voltar ao básico, procurando usar apenas o necessário”, opina a médica Maria Izabel Chiamolera, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), apesar de reconhecer que esse não é um conselho tão simples, por questões culturais e, até, pela força da indústria de cosméticos no País.

O Brasil é o terceiro maior mercado do mundo de cremes, loções, séruns, máscaras, xampús, desodorantes, maquiagens e afins. Só perdemos para os Estados Unidos e para a China. Mas será que precisamos de tantos produtos assim, no dia dia? A questão tem sido debatida em congressos e encontros médicos a cada ano.

O receio é que, dentro de frascos e potes, além de promessas, possam existir centenas de substâncias capazes de interferir na produção de hormônios ou no seu transporte pelo organismo ou, ainda, na própria ação dessas substâncias. Ou seja, componentes que, por definição, fariam parte do gigantesco grupo dos desreguladores endócrinos, ao lado da companhia nada agradável de pesticidas, poluentes e de moléculas que já caíram na boca do povo, como o famigerado bisfenol A de certos plásticos.

O assunto foi debatido no 35.º Congresso Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia realizado em São Paulo, no final de setembro. O risco potencial de moléculas presentes nas formulações, desconsiderando aquelas das embalagens que, conforme o plástico, poderiam migrar para o produto foi bastante discutido no encontro. O certo é que uma vez nos cosméticos, os desreguladores endócrinos são capazes de passar através da pele, ser inalados ou, até mesmo, ingeridos sem querer quando, por exemplo, você estala um beijo em alguém besuntado de creme. Daí, se isso ocorre dia após dia, o efeito à saúde talvez não seja nada bom.

Entre os especialistas, há o consenso que a cautela deve ser maior entre gestantes. “Há passagem pela placenta”, justifica a professora endocrinologista Elaine Costa, professora da Faculdade de Medicina da USP. “E o ideal seria evitar que o feto se desenvolvesse em um ambiente potencialmente negativo.” No caso, ela se refere ao que os cientistas chamam de alterações epigenéticas, capazes de afetar, por exemplo, óvulos e espermatozóides. “Portanto, alterações que irão ser transmitidas para as gerações seguintes, trinta ou quarenta anos depois”, diz.

Crianças e adolescentes são outro grupo que deveria evitar exageros. “O organismo está completando sua formação e desenvolvimento nessas primeiras fases de vida. Não faz muito sentido expô-lo sem necessidade a substâncias as quais você nem sabe direito no que podem dar”, adverte a endocrinologista.

“Sobre favorecer a obesidade, o diabetes e os cânceres que, de alguma maneira estão relacionados a hormônios, essas são consequências que podem levar anos para ocorrer”, afirma Maria Izabel Chiamolera. “Por isso, cheguei a brincar no congresso que não gosto de etarismo, mas essa história de desreguladores endócrinos deve chamar a atenção quando a pessoa é jovem”, salienta a médica.

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